segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O discurso do medo

A grande imprensa divulga a estratégia compartilhada, que seria utilizada por petistas e tucanos, frente à potencial ameaça  a eles da candidatura Marina Silva. Resultados de recente pesquisa feita pelo instituto Datafolha apontam a possível supremacia de Marina contra Aécio (na obtenção de uma vaga para o segundo turno das eleições presidenciais), e, em seguida, outra possível vitória de Marina no segundo turno contra Dilma. Marina Silva, qual um bicho-papão, almoçaria um e jantaria a outra. Reagindo a tais cenários, a solução comum para Dilma e Aécio seria desqualificar a candidata socialista apontando-lhe incompetência, ou inexperiência, gerencial e administrativa para fazer frente aos desafios postos ao próximo presidente da república.

Os tucanos ainda possuem alguma legitimidade para levantar tal questão, dada sua devoção a critérios burocráticos de análise política. Quanto aos petistas, postular a hipótese desqualificadora é simplesmente risível. Não que a turma petista não tenha gabarito para fazer o diabo (conforme dona Dilma esclareceu há pouco); porém, por mais que se queira, parece difícil encontrar período de governo tão medíocre quanto o da atual presidente. A presumida gerentona, de gerente não tem, nem tinha, nada que a abonasse ou sustentasse tal crença. 

O colapso do sistema energético brasileiro, em que pese sua condução com mão de ferro por dona Dilma (desde início do período Lula), é demonstração mais que cabal da incapacidade política e administrativa da madame. Se Marina não tem experiência, o que é discutível, pois que foi ministra do meio ambiente por longos anos, pelo menos não faliu nenhuma lojinha de R$1,99 a que se propôs criar e gerenciar. Não se sabe, por outro lado, que Marina tenha assinado, sem ler, qualquer documento oficial que afetasse altos interesses da sociedade, tal como procedeu dona Dilma no caso Pasadena. 

A leviandade e a incompetência são parte inerente do perfil da atual primeira mandatária. Os resultados de sua obra aí estão - desastrosos - quando analisados e compreendidos sob qualquer ponto de vista. A própria mediocridade de seu untuoso ministério ainda será objeto de muita reflexão no futuro. Entrar e sair desse ministério parece mais uma disputa de xepeiros, em guerra por restos de repolhos e batatas bichadas nos finais de feira. Foi verdadeiramente uma façanha ajuntar um grupo tão vasto e diversificado de nulidades num único bloco. Há para todos os gostos e, segundo dizem, alguns até honestos. Ninguém, mesmo os devotados ao dia-a-dia da política, conseguiria dizer corretamente o nome e função de metade dos atuais ocupantes dos cargos de primeiro escalão.
   
O povo brasileiro, então, não corre outro risco com Marina - se não o de ficar tudo como está - dado que piorar a situação em que vive o país não é possível. Já chegamos ao fundo do poço. Os tucanos, por sua vez, ficam tão somente no velho programa de governo satirizado por Eça de Queirós, em O Conde de Abranhos: Moralidade, Ordem e Economia. Sua imaginação institucional não ultrapassa esse desenho básico. A Marina Silva bastaria aprofundar e insistir no compromisso prioritário de limpar as estrebarias de Augias que vicejam nos porões dos múltiplos e diferentes palácios onde se abrigam os parasitas que nos governam. Só a economia com o dinheiro que não é roubado já daria para fazer muita coisa. O povo entenderia bem o projeto político assim resumido. O eixo de seu discurso deve-se voltar para as questões energéticas, econômicas e institucionais. Ela não precisa provar seus compromissos com o social. Sua cara ascética é o retrato do que ela é, bem contrastante com o ar de gula e de voracidade que a outra ostenta.    

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