quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Dilma, a cozinheira

O primeiro programa eleitoral de dona Dilma foi um show de imagens. Lançando mão de todos os recursos que a tecnologia cinematográfica propicia, o marqueteiro responsável pela obra construiu uma narrativa essencialmente postiça sobre a candidata. É aceitável que se faça uma fabulação sobre o futuro; tolerável quando o foco é o presente; mas falsificar o passado é uma ousadia que somente ficcionistas como Borges e Bioy Casares se permitiram com êxito. Dos temas perseguidos pelos dois notáveis argentinos, a invenção do passado foi, certamente, o mais complexo de todos sobre os quais se debruçaram.

A cena de dona Dilma - toda maquiada e produzida - preparando macarronada (numa cozinha desprovida de qualquer sinal de vida humana),  é antológica. Não se deram ao trabalho de pendurar nela um avental, singelo que fosse, a fim de compor o personagem que ela pensava encarnar, dando-lhe um ar de plausibilidade. Quem vai à cozinha preparar um espaguete ao alho e óleo com aquela indumentária? Trajada com indefectível terno esverdeado, ela segura o cabo de uma panela com a mesma intimidade distante que um ET demonstraria com ferramentas humanas. Talvez um marciano fizesse melhor figura, apesar de haver suspeitas de que a madame veio igualmente de outro planeta - o que ela nega - como o fez recentemente em Belo Horizonte, quando repudiou ser taxada de mulher oriunda de Saturno ou de Marte. Proclamou, decidida: eu sou terráquea. Não informou, contudo, a matriz geográfica. Pois, então, o esforço de Campos de Carvalho, em demonstrar que a Bulgária não existe, foi em vão. Se a Bulgária não há, os búlgaros e seus púcaros são uma ilusão. Porém, se há búlgaros, haverá Bulgária. E se há Bulgária, haverá Dilma. Cartesiano.

Nenhum comentário: