O desempenho de dona Dilma em entrevista ao Jornal
Nacional merece ser devidamente avaliado. A síntese da conduta e das falas da
madame está bem traduzida no editorial do jornal O Estado de São Paulo. Nada
que as pessoas bem informadas já não soubessem. A truculência habitual se soma
à desfaçatez e à deliberada ignorância a respeito de fatos notórios. Sem falar
nas evidentes mentiras. Se o povo brasileiro reeleger dona Dilma, não será por
desconhecimento a respeito da candidata. Talvez, aí, tudo se explicasse por
alguma maldição cármica a que o Brasil estivesse condenado sem o saber. Também
não é desconhecida, na história do pensamento político, a explicação sobre a
vontade de servir, circunstância na qual muitos vivem imbuídos.
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A presidente no
sufoco (editorial do Estadão de 20/08/2014)
“Nunca antes nos 3 anos, 7 meses e 18 dias de Dilma
Rousseff no Planalto o público tinha tido a oportunidade de ver o que
subordinados da "gerentona" conhecem por humilhante experiência
própria: a chefe à beira de um ataque de nervos. Com a diferença de que, no seu
gabinete, ela se sente literalmente em casa para descarregar a ira com as
presumíveis dificuldades da equipe em captar o seu pensamento - o que, tendo em
vista as peculiares circunvoluções de sua forma de expressão, se explica
plenamente.
"Não há no inferno", escreveu
Shakespeare, "fúria comparável à de uma mulher rejeitada." Ou de uma
Dilma Rousseff contrariada - e sem poder pôr no devido lugar o responsável real
ou imaginário pela afronta. Foi o que a audiência do Jornal Nacional (JN) da
segunda-feira descobriu ao acompanhar a entrevista dos apresentadores William
Bonner e Patrícia Poeta com a candidata à reeleição. Ela foi a terceira a ser
arguida na série de sabatinas de 15 minutos com os principais aspirantes à
Presidência, iniciada com o tucano Aécio Neves, a quem se seguiu o
ex-governador Eduardo Campos, na véspera de sua trágica morte. (Quando a sua
candidatura tiver sido formalizada, também Marina Silva será convidada.)
Por ser presidente, Dilma teve o privilégio de
receber os jornalistas na residência oficial do Alvorada, à frente de estantes
de livros encadernados e cuidadosamente dispostos, sem sinal de manuseio, um
cenário escolhido para denotar solenidade, elevação e a nobreza da função
presidencial. Nada que ver com o ambiente do JN, nos estúdios da Rede Globo, no
Rio de Janeiro, em que os donos da situação, como Aécio e Campos sentiram na
pele, são os âncoras do principal noticioso da TV brasileira, infundindo, nas
suas perguntas, contundência e conhecimento de causa à altura dos seus implacáveis
colegas britânicos - a referência mundial no gênero.
Mas logo na resposta ao primeiro disparo de Bonner
sobre uma das duvidosas distinções do governo - as denúncias de casos de
corrupção em sete ministérios - ficou claro o desamparo da presidente.
Faltava-lhe o ponto no ouvido pelo qual o seu marqueteiro João Santana poderia
conduzi-la, se não a terra firme, ao menos para longe do vórtice. Pior ainda,
faltava-lhe o conforto das gravações irrepreensivelmente produzidas que
confeccionam uma imaginária Dilma estadista. Com o misto de irritação e
impaciência que denotaria durante toda a entrevista, ela desandou a juntar
frases e mais frases que tinham em comum a extensão, a desconexão e a
pretensão.
Para mostrar superioridade ética, por exemplo,
disse que os governos petistas não têm um "engavetador-geral da
República", como, segundo a oposição, teria sido o titular do Ministério
Público Federal nos anos Fernando Henrique. E reivindicou, para
"nós", a criação da Controladoria-Geral da União. Na realidade, Lula
pouco mais fez do que mudar o nome do órgão fiscalizador do Executivo
(Corregedoria-Geral da União) instituído pelo tucano em 2001 e fortalecido no
ano seguinte com a absorção da Secretaria Federal de Controle, antes vinculada
ao Ministério da Fazenda. Em dado momento, tentando cortar o interminável
palavrório da candidata, o entrevistador recebeu uma dose de Dilma em estado
puro: "Então, continuando o que eu estava dizendo…".
Fez-se de desentendida quando Bonner lhe perguntou
o que achava de o PT tratar como vítimas os companheiros condenados pelo
Supremo Tribunal Federal no processo do mensalão. Pelo menos três vezes ela
repetiu que, como presidente, "não julgo ações do Supremo", por mais
que o jornalista reiterasse que o objeto da pergunta era a conduta de seu
partido, não o veredicto do Tribunal. A esta altura, Dilma parecia prestes a
explodir. Quando o assunto passou a ser a economia, diante dos números amargos,
de conhecimento público, sobre a inflação e o PIB, saiu-se com um "não sei
da onde que estão (sic) seus dados". O tempo do programa estourou depois
de quatro perguntas apenas e Dilma precisou ser interrompida quando pedia
"o voto dos telespectadores".
Terminado o sufoco, a presidente tomou uma decisão
prudente, embora apequenadora: cancelou a entrevista que daria em seguida à
Globo News”.
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