COMPETITIVIDADE EM QUEDA
"A indústria brasileira está ficando
para trás na disputa por novos mercados em que se envolveram os países
emergentes mais competitivos para tentar compensar a retração nas economias
industrializadas decorrente da crise mundial iniciada em 2008. Sem conseguir
ocupar novos espaços em mercados tradicionais para seus produtos, como os
Estados Unidos e a Europa, a indústria local vem perdendo espaço até mesmo no
mercado doméstico. Ao longo de 2009, quando os efeitos da crise começaram a se
espalhar pelo mundo de maneira mais clara, o setor manufatureiro nacional
conseguiu resistir e até ampliou sua fatia no consumo interno de bens
industrializados. Desde o início de 2010, no entanto, vem cedendo fatias do
mercado local para produtores estrangeiros.
No segundo trimestre deste ano, a
parcela dos produtos estrangeiros no consumo nacional de bens industrializados
chegou a 21,8% do total. É o índice mais alto desde 2007, quando a Confederação
Nacional da Indústria (CNI) passou a divulgar os Coeficientes de Abertura Comercial,
um estudo destinado a avaliar a competitividade da indústria brasileira. Essa
participação é 1,2 ponto porcentual maior do que a constatada no segundo
trimestre do ano passado. Mas, nos últimos quatro anos, o aumento tem sido
ininterrupto e já alcança 5,9 pontos porcentuais (no primeiro trimestre de
2010, o coeficiente era de 15,9%).
O gerente executivo de Pesquisa e
Competitividade da CNI, Renato da Fonseca, espera que a desvalorização cambial,
que encarece o produto importado na moeda nacional, contribua para reverter
essa tendência até o fim do ano. Mesmo que isso ocorra, e o efeito cambial não
seja efêmero, a situação da indústria brasileira diante dos competidores
estrangeiros não melhorará muito. O mercado externo, que poderia compensar perdas
nas vendas domésticas e estimular a produção, o emprego e os investimentos no
setor industrial, não está sendo ampliado.
Os fatores que encarecem a produção
local - sistema tributário oneroso e complexo, escassez e alto custo dos
financiamentos de médio e de longo prazos, infraestrutura precária e, agora,
desânimo e desconfiança gerados pela política econômica do governo - abrem
espaço no mercado brasileiro para os importados e dificultam, para os produtos
nacionais, o acesso a mercados no exterior. Sem investimentos adequados em
modernização, e com dificuldades cada vez mais acentuadas na contratação de mão
de obra devidamente preparada, o setor manufatureiro vem perdendo
competitividade.
A persistência dos fatores que tolhem
a produção industrial e o eventual agravamento de alguns deles (como o aumento
da desconfiança do empresariado em relação à política econômica) tornam o setor
cada vez menos resistente ao avanço de produtores de outros países, aqui e no
exterior.
Para diversos setores da indústria de
transformação, o problema não é novo e tem se agravado nos últimos anos. Parte
dos setores tradicionais, como os de alimentos, bebidas e fumo, tem sido
preservada nessa disputa feroz no mercado doméstico - menos, talvez, por sua
competitividade do que pelo desinteresse dos fabricantes estrangeiros. Outros
setores tradicionais, como têxteis e vestuários, ao contrário, perderam fatias
do mercado brasileiro para os produtos estrangeiros. Em 1996, os importados
detinham 13,1% do mercado interno de têxteis e 3,8% do consumo nacional de
vestuário; no ano passado, as fatias dos importados alcançavam,
respectivamente, 17,5% e 11,1%.
(Publicado em O Estado de São Paulo, de 17-08-2014)
PS: Não se deve esquecer que o antigo ministro responsável pela política industrial brasileira quer ser agora governador de Minas Gerais. Quer governar os mineiros com essas credenciais? Vale relembrar, ainda, que sua mais notória experiência com indústria deu-se com fábrica de tubaína, que fechou as portas após ouvir seus conselhos.
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