segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O bom de serviço e a herança maldita: mais dados e informações


COMPETITIVIDADE EM QUEDA


"A indústria brasileira está ficando para trás na disputa por novos mercados em que se envolveram os países emergentes mais competitivos para tentar compensar a retração nas economias industrializadas decorrente da crise mundial iniciada em 2008. Sem conseguir ocupar novos espaços em mercados tradicionais para seus produtos, como os Estados Unidos e a Europa, a indústria local vem perdendo espaço até mesmo no mercado doméstico. Ao longo de 2009, quando os efeitos da crise começaram a se espalhar pelo mundo de maneira mais clara, o setor manufatureiro nacional conseguiu resistir e até ampliou sua fatia no consumo interno de bens industrializados. Desde o início de 2010, no entanto, vem cedendo fatias do mercado local para produtores estrangeiros.

No segundo trimestre deste ano, a parcela dos produtos estrangeiros no consumo nacional de bens industrializados chegou a 21,8% do total. É o índice mais alto desde 2007, quando a Confederação Nacional da Indústria (CNI) passou a divulgar os Coeficientes de Abertura Comercial, um estudo destinado a avaliar a competitividade da indústria brasileira. Essa participação é 1,2 ponto porcentual maior do que a constatada no segundo trimestre do ano passado. Mas, nos últimos quatro anos, o aumento tem sido ininterrupto e já alcança 5,9 pontos porcentuais (no primeiro trimestre de 2010, o coeficiente era de 15,9%).

O gerente executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca, espera que a desvalorização cambial, que encarece o produto importado na moeda nacional, contribua para reverter essa tendência até o fim do ano. Mesmo que isso ocorra, e o efeito cambial não seja efêmero, a situação da indústria brasileira diante dos competidores estrangeiros não melhorará muito. O mercado externo, que poderia compensar perdas nas vendas domésticas e estimular a produção, o emprego e os investimentos no setor industrial, não está sendo ampliado.

Os fatores que encarecem a produção local - sistema tributário oneroso e complexo, escassez e alto custo dos financiamentos de médio e de longo prazos, infraestrutura precária e, agora, desânimo e desconfiança gerados pela política econômica do governo - abrem espaço no mercado brasileiro para os importados e dificultam, para os produtos nacionais, o acesso a mercados no exterior. Sem investimentos adequados em modernização, e com dificuldades cada vez mais acentuadas na contratação de mão de obra devidamente preparada, o setor manufatureiro vem perdendo competitividade.

A persistência dos fatores que tolhem a produção industrial e o eventual agravamento de alguns deles (como o aumento da desconfiança do empresariado em relação à política econômica) tornam o setor cada vez menos resistente ao avanço de produtores de outros países, aqui e no exterior.

Para diversos setores da indústria de transformação, o problema não é novo e tem se agravado nos últimos anos. Parte dos setores tradicionais, como os de alimentos, bebidas e fumo, tem sido preservada nessa disputa feroz no mercado doméstico - menos, talvez, por sua competitividade do que pelo desinteresse dos fabricantes estrangeiros. Outros setores tradicionais, como têxteis e vestuários, ao contrário, perderam fatias do mercado brasileiro para os produtos estrangeiros. Em 1996, os importados detinham 13,1% do mercado interno de têxteis e 3,8% do consumo nacional de vestuário; no ano passado, as fatias dos importados alcançavam, respectivamente, 17,5% e 11,1%.

Mas a perda mais notável da indústria nacional ocorre nos setores que agregam mais valor e incorporam mais tecnologia, justamente aqueles em que é mais intensa a disputa internacional. Entre 1996 e 2013, a fatia dos importados no mercado doméstico dos produtos eletrônicos, de informática e ópticos passou de 36% para 47,8%; e a de máquinas e materiais elétricos, de 15,0% para 26,7%. O controle político da Petrobrás pelo governo do PT também fez crescer as importações: as dos derivados de petróleo e bicombustíveis aumentaram sua fatia de 13,7% para 21,1%."


(Publicado em O Estado de São Paulo, de 17-08-2014)


PS: Não se deve esquecer que o antigo ministro responsável pela política industrial brasileira quer ser agora governador de Minas Gerais. Quer governar os mineiros com essas credenciais? Vale relembrar, ainda, que sua mais notória experiência com indústria deu-se com fábrica de tubaína, que fechou as portas após ouvir seus conselhos.

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