João Santana captou de forma certeira a essência de Luiz Inácio
da Silva quando contou como explorou para efeito de propaganda política a dupla
personalidade do personagem: o fortão e o fraquinho. Ambos viventes do mesmo
corpo entram em cena de acordo com a necessidade.
O forte atua para intimidar e
se vangloriar; o fraco para fazer-se de mártir. O primeiro encarna o humilde
que virou poderoso contra tudo e contra todos e o segundo faz o papel de vítima
das elites, alvo de preconceito de classe, um injustiçado, mas resistente
benfeitor dos pobres. Santana revelou o truque ao público há dez anos e até
hoje ainda há quem se deixe iludir por essa artimanha.
E não se fala aqui do fiel depositário dos benefícios sociais,
que não os vê como direito, mas como concessão paternal. Fala-se das camadas
mais informadas, cientes de todos os fatos e atos que revelaram a mentira da
bandeira do PT pela ética na política. Caíram no conto quando da condução
coercitiva de Lula para depor na Polícia Federal e voltaram a morder a isca
quando da denúncia apresentada pela força-tarefa da Lava Jato, na semana
passada.
Por ocasião da coercitiva, ato que já havia sido aplicado a vários investigados na operação, Lula encenou o fortão: agressivo, avisou que haviam tentado abater “jararaca”, mas não conseguiram matá-la.
Atingiu o objetivo de inocular desconfiança na atitude dos
investigadores que, por essa versão, teriam cometido abusos, exagerado, montado
um “circo”. Pois de lá para cá surgiram novos indícios, novas revelações
contidas nos depoimentos das delações premiadas, que justificavam o ato. Lula
deveria sim ser tratado como vários outros investigados também conduzidos da
mesma forma a prestar esclarecimento sem que houvesse reação contra o
“absurdo”.
A diferença é que o ex-presidente é o que resta ao PT e, nessa
condição, precisa alimentar o mito do intocável. Naquela ocasião, recorreu ao
fortão que mete medo. Nessa recente, subiu ao palco o fraquinho que produz
necessidade de expiação de culpa e resgate da “dívida social”. Ambos cultivam
terreno fértil à semeadura da enganação.
A contundente, adjetivada e detalhada exposição das razões pelas
quais foi apresentada a denúncia contra Lula propiciou a propagação da ideia de
que os procuradores extrapolaram, produziram um show e nada comprovaram que pudesse
corroborar a convicção de que o ex-presidente esteve no topo do esquema de
corrupção que sem seu conhecimento não teria como funcionar naquela dimensão.
Fizeram isso de maneira transparente, apresentando as evidências
até agora recolhidas, respondendo depois às perguntas dos jornalistas.
Obviamente não revelaram tudo. Quando o Ministério Público divulga resultados
de investigações é porque detém muito mais informações para respaldar as
afirmações.
Já Lula fez as coisas de forma nebulosa. Pronunciou-se sem
abordar o mérito das acusações, protegido pelos aplausos da militância reunida
no Diretório Nacional do PT. Deu a satisfação que quis, fugindo daquelas que
seria instado a dar caso tivesse aberto espaço aos questionamentos da imprensa.
O ex-presidente acusou o golpe recebido com a denúncia. Disse
que não estava “entendendo” o que se passava, mas compreendia perfeitamente o
que daqui em diante pode lhe acontecer. Fosse de fato inexistente a substância
do material na posse do MP, ele teria rebatido ponto a ponto sem o auxílio de
recursos histriônicos nem teria precisado sustentar sua diatribe aos
procuradores numa mentira: “Não temos provas, mas temos convicção”, a frase de
impacto que nunca foi dita.
Lula zombou do Ministério Público sem que isso sirva para ajudá-lo na Justiça. Mas deu motivos aos interessados em atrapalhar as investigações que, não por acaso, lhe deram toda razão.
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