sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Audácia do Boff: PT e Dilma sofrem bullying


A loucura humana, de fato, não tem limites. O notório frei Boff acaba de cometer uma das mais absurdas teses sobre os crimes e os criminosos do PT. Estes estariam a sofrer um bullying persistente, como se fossem bodes expiatórios a purgar as culpas que pertencem a todo o Brasil. Quer dizer, Lula, Dilma e mais uma lista de delinquentes cuja enumeração preencheria um daqueles antigos catálogos telefônicos, são doces criaturas que vêm sendo assediadas por gente perversa e pecadora, cujo propósito é encontrar quem pague pelas consequências de anos de corrupção, fraudes e trapaças generalizadas. 

Dilma, Lula e a vasta companheirada não teriam nenhuma culpa ou responsabilidade pelo que aconteceu. Incrível, mas é o que diz o tal teólogo. Frente a tais desvarios dá para entender o "silêncio obsequioso" a que foi condenado pelo papa Bento XVII. Se Boff, no entanto, não pode mais rosnar para dentro da Igreja, poem-se ele absurdamente a cacarejar, impenitente, contra os cidadãos e as instituições democráticas brasileiras. Para que não pairem dúvidas a respeito de suas audaciosas formulações, segue abaixo a íntegra do artigo do bofe:

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A persistência do bullying sobre o Partido dos Trabalhadores e Dilma


"É notório o bullying político e social sofrido persistentemente pelo PT e por Dilma Rousseff. Uma coisa é reconhecer que houve corrupção e erros políticos do PT, e outra coisa é tributar quase exclusivamente tais fatos e a crise atual ao PT e à ex-presidente.

Para entender esse penoso fenômeno, socorre-nos um dos maiores pensadores da atualidade que dedicou grande parte de sua obra a decifrar o que seja a agressividade humana e seus disfarces: René Girard (1923-2015), francês, professor de letras e antropólogo, que viveu nos Estados Unidos. Constata Girard que todos os grupos, e mesmo as sociedades conhecidas, vêm atravessados por tensões e conflitos. O processo civilizatório, a educação, as leis e as religiões propõem um ponto de equilíbrio que permita uma convivência minimamente pacífica ou que impeça que os conflitos não sejam destrutivos.

Mas pode chegar um momento em que os conflitos perdem as rédeas e as forças do negativo vão se acumulando, rompendo o referido equilíbrio. Começam os processos de ruptura nas relações sociais e até nas famílias e entre amigos. O instrumento mais usado é a mídia.

Lentamente, emerge o sentimento de que, assim como se encontra, a sociedade não pode continuar. Ela tem que encontrar um novo equilíbrio. Uma das formas, a mais equivocada e persistente, é a criação de um bode expiatório, que varia consoante as circunstâncias históricas: podem ser os comunistas, os sem-terra, os pobres que ascenderam socialmente, os terroristas, os muçulmanos, as esquerdas e outros.

Em nosso caso, o bode expiatório escolhido foi e continua sendo o PT e a ex-presidente Dilma Rousseff. Toda a raiva e o ódio acumulados são lançados sobre o bode expiatório. Ele carrega todas as maldades e é feito responsável por todos os desmandos ocorridos e pela crise econômico-financeira. Esquecidos ficam, consciente ou inconscientemente, todos os acertos, em especial a maior transformação social pacífica feita em nosso país, que implicou a diminuição de nossa maior vergonha, a desigualdade social e, positivamente, a integração de cerca de 40 milhões de pessoas, sempre consideradas peso morto da história.

Mas há outra função, a de ocultar. Ao colocarem toda culpa e todos os males sobre o PT e a ex-presidente, os grupos dominantes ocultam sua própria perversidade e culpa. Apresentam-se, farisaicamente, como paladinos da moralidade e tomados de indignação contra a corrupção. No entanto, exatamente dentro desses grupos dominantes se encontram os maiores corruptos, corruptores e sonegadores de impostos.

A Bíblia conhece também a figura do bode expiatório, sobre o qual a comunidade colocava todas as ofensas a Javé e o levava para o deserto para lá morrer. O mesmo faziam os gregos, chamando o bode expiatório de “phármacon”, que, como um remédio farmacêutico, purificava a sociedade de seus desacertos. O cristianismo o vê na figura do cordeiro imolado. O efeito é sempre o mesmo: aplacar a sociedade para que, refeita, possa equilibrar seus conflitos, até que estes se agravem novamente e acabem por criar algum outro bode expiatório.
Assim funciona canhestramente nossa história sacrificialista. Girard vê uma saída sensata: na coordenação dos interesses ao redor do bem comum, na total transparência e na inclusão de todos, sem sacrificar ninguém. Mas reconhece que esse não é o caminho seguido pela maioria das sociedades conhecidas. O mais fácil é criar bodes expiatórios, como se pratica atualmente no Brasil. Para a infelicidade geral".  

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