“Não há no planeta Terra ninguém mais
indignado do que eu”, disse Lula ao receber a notícia de que fora transformado
em réu da Lava Jato pelo juiz Sérgio Moro. A frase superlativa não surpreendeu
o magistrado que comanda a devassa do maior esquema corrupto da história. Ele
soube desde sempre com quem estaria lidando, confirma a ressalva incluída no
texto que formalizou a aceitação da denúncia do Ministério Público Federal: “…
entre os acusados, encontra-se ex-Presidente da República, com o que a
propositura da denúncia e o seu recebimento podem dar azo a celeumas de
toda a espécie”.
“Celeuma” é pouco para definir o que
Lula anda dizendo desde que a distância entre São Bernardo do Campo e a
República de Curitiba encurtou dramaticamente. Graças sobretudo à discurseira
em resposta aos procuradores federais, ficou claro que há notáveis diferenças
entre as reações verbais provocados pelo medo de cadeia ─ cujo sintoma
inaugural é a perda da noção do ridículo ─ e as produzidas pelo medo da
morte política, escancarado pela perda do que resta do sentimento da vergonha.
Para sobreviver ao escândalo
descoberto em 2004, por exemplo, Lula primeiro afirmou que fora traído por
amigos jamais identificados, depois jurou que o Mensalão nunca
existiu. Sem acreditar numa só palavra do que dizia, avisou que, tão logo
deixasse a Presidência, trataria de desvendar pessoalmente a conspiração da
elite golpista que tentou derrubar, com a fabricação de roubalheiras
imaginárias, o governo que só pensava no povo. Haja sem-vergonhice.
Essa retórica do cinismo deu lugar ao
discurso de quem cruzou a fronteira do ridículo, avisa o palavrório despejado
pelo palanque ambulante um dia depois da denúncia dos procuradores da Lava
Jato. Mais grave ainda, Lula agora acredita no besteirol que improvisa sob
salvas de palmas das plateias amestradas. “Acho que só ganha de mim aqui
no Brasil Jesus Cristo”, disse o Mestre a seus discípulos no Sermão do Segundo
Calvário. Ele ainda enxerga no espelho o campeão de popularidade aposentado
pela vaia no Maracanã na abertura do Pan-2007 .
Lula ultrapassou de novo a fronteira
do ridículo ao explicar que “a profissão mais honesta é a do político, porque
todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir pra rua e pedir voto”.
Para o comandante do Petrolão, portanto, a mais honesta das profissões é
exercida por ladrões tão insolentes que pedem votos às vítimas do
assalto. Garantida a camisa-de-força, a alma viva mais pura do mundo
consolidou a candidatura a orador das turma do hospício com a sopa de letras concebida
para provar que só diz a verdade.
“A gente pode mentir pra vocês, a
gente pode mentir pra mulher da gente, a gente pode mentir pro presidente do
partido, a gente pode mentir pra um companheiro, mas a gente não pode mentir
nem pra Deus e nem pra gente mesmo”. Resumo da ópera do desvario: só Deus
e Lula sabem a verdade que o mitômano sem cura esconde do resto do mundo. No
dia do depoimento à Lava Jato, fará o possível para ocultá-la de Sérgio Moro.
Caso tente escapar da Lava Jato pela
trilha desmatada por frases sem pé nem cabeça como as reproduzidas acima,
poderá antecipar o acerto de contas com a Justiça. E cumprir mais cedo a
promessa de percorrer a pé o caminho da cadeia.
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