quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

12 anos sem Darcy

O Brasil ficou órfão de Darcy, como ele mesmo dizia a respeito do seu futuro que se abreviava. Neste 17 de fevereiro completou-se mais um aniversário de sua morte. Velha e sábia serpente, que de tempos em tempos mudava sua pele, Darcy Ribeiro foi um vulcão que brindava o mundo com suas inumeráveis obras. Afinal, para ainda ficar preso às suas próprias palavras, ele era um fazedor. Envolveu-se com a questão indígena, com a reforma agrária, com a literatura, com as artes e a ciência, com a cultura, com o carnaval, com o amor humano às mulheres, com a universidade e com a política. Um único tema, todavia, era permanente em suas preocupações: a educação pública. Outra constante em tudo que fez era a generosidade; só pensava grande, mesmo quando se deparava com a mais aterradora ingratidão.

Com Darcy não havia espaço para a mesquinhez. Ácido e contundente em suas análises, tinha a coragem de transpor para os atos a veemência do diagnóstico. Nunca queria menos que o melhor. A título de exemplo, veja-se o caso do Sambódromo. Deparando-se com o tumulto que era a montagem e desmontagem de arquibancadas para o carnaval do Rio de Janeiro, criou estrutura definitiva que aliou a beleza à funcionalidade, além de permitir o funcionamento de uma escola no período não carnavalesco. Os donos do samba carioca, aliás, que prestam homenagens a tantos assuntos e a tantos personagens menores, nunca pagaram o tributo devido a este homem que deu ao Rio de Janeiro este palácio da cultura popular. Parece que neste 2009 alguma coisa será feita. Tomara que à altura.

Herdeiro auto-proclamado de Anísio Teixeira, denunciou a calamidade de nossa escola fundamental com seu criminoso regime de turnos. Das palavras à ação construiu, com a ajuda de Oscar Niemeyer – sempre ele - o símbolo da verdadeira libertação dos brasileiros: os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs). Darcy Ribeiro acreditava na educação de qualidade e que era possível propiciá-la a todos, independentemente da origem das crianças, em um regime de tempo integral. A ajuda às famílias pobres se faria com uma escola eficiente, competente e bela. Uma escola em que as crianças se preparariam para o futuro com as armas do conhecimento e da tecnologia. Não, como ainda hoje continua a ser, em que a escola produz mais analfabetos que alfabetizados; em que as autoridades educacionais estão mais preocupadas com vãs estatísticas ou com a distribuição de espórtulas financeiras, que em criar condições de trabalho e estudo para professores e alunos. Darcy se foi, mas seu espírito continua ainda a animar os que compartilham do seu ideário universalizante.

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