quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Kalil: contra tudo isso que está aí!



Uma das características mais persistente do petismo é sua oposição radical a “tudo isso que está aí”. Essa é a expressão síntese da chamada cultura do repúdio, a qual marca indelevelmente os adeptos e simpatizantes do PT. Pode-se ainda incluir nesse bloco os miúdos agrupamentos que gravitam em torno daquele partido, como a REDE (de Marina Silva), o PC do B, o PSOL, o PSTU e outras frações mais minoritárias ainda, tipo PCO e PCB.

Com sua desfaçatez habitual, o petismo percebeu que em cidades como Belo Horizonte, marcada por um forte sentimento oposicionista, uma candidatura a prefeito pelo PT estaria condenada a naufragar. As manifestações dos últimos anos, quando a classe média rebelada foi para as ruas questionar especialmente Lula, Dilma e o PT dão a conhecer a dimensão profunda de tal sentimento de rejeição. É bom recordar que apesar de Dilma ter vencido as eleições de 2014 em Minas Gerais, ela não ganhou em Belo Horizonte.

Se os fatos vêm ratificando dia após dia o conceito geral sobre a podridão e canalhice das hostes petistas, não é menos verdade que a quadrilha chefiada por Lula é profissional e imaginosa nas artes da política. Veja-se que Patrus Ananias, deputado federal, ex-ministro de Lula e Dilma além de ex-prefeito da capital mineira, seria indubitavelmente o melhor nome do PT para a disputa em outubro. Com seu jeitão sonso de sacristão aposentado, Patrus ainda mantém imagem de pessoa honesta e respeitável em Belo Horizonte, apesar de vaias recebidas recentemente em lugares públicos. Recusou, no entanto, ir para a disputa, desconfiado e matreiro que é. Ele sabe que a batata do PT está quase assada.

Alguém, entretanto, tinha que ir para o sacrifício. Arrumaram, então, um obscuro parlamentar do PT (um tal Reginaldo Lopes), para encabeçar a chapa majoritária, secundado por uma esquisita deputada do PC do B (uma tal Jô Morais), reavivando o velho pacto, da legenda principal com sua subserviente e histórica sublegenda, num dueto medonho sob todos os aspectos. Isso foi o máximo que conseguiram agrupar para apresentar aos moradores de Belo Horizonte. A fragilidade eleitoral da pavorosa dupla pode ser aferida pelas pesquisas que são divulgadas periodicamente; não ultrapassam os 3% da preferência entre os consultados. É uma proporção digna de candidatos a vereador. 

Ficou, pois, uma dúvida ou interrogação. Para quem, ou para onde, irão os votos dos petistas e dos comunistas do Brasil, que os há em Belo Horizonte, apesar de minoritários? Qual candidato mais se assemelha àqueles que, antigamente, viviam a bradar que são “contra tudo isso que está aí?”

A resposta é simples e surpreendente. Da mesma maneira que a luva deve se ajustar à mão, o petismo desamparado, o marinismo da nova política e os verdes lançaram um nome que capturasse aquele antigo eleitor do PT: os revoltados contra a situação em geral, os que fazem restrições à política e aos políticos (da mesma maneira que o fizeram Collor, o caçador de marajás, e Dilma, a supergerente, aquela que fazia e acontecia). 

Dilma e Collor nunca se davam ao desfrute de dar confiança aos políticos tradicionais, que sempre desprezaram, preferindo ficar nos seus conchavos corruptores com meia dúzia de apaniguados. Acharam Kalil disponível (empreiteiro de férias, imagine-se o non sense), fazendo dupla com um vice-prefeito provindo da Rede, de Marina Silva, a porta voz de uma pretensa "nova política" que, aliás, ainda não deu as caras em Belo Horizonte.  

Kalil se apresenta bancando o “gerentão”, pondo e dispondo, no seu peculiar estilo “deixa que eu chuto”, como se uma prefeitura complexa igual a de Belo Horizonte fosse um clube de futebol dirigido a golpes e gritos. Seu bordão, repetido à exaustão, é "chega de político, agora é Kalil". O petismo envergonhado não teve dúvidas. Saindo dos subterrâneos da ação política vai encaminhando para Kalil suas intenções de voto, tudo sob as bênçãos discretas do governador Pimentel. 

Kalil só não obterá êxito se for mostrado ao povo de Belo Horizonte seus vínculos com Collor e Dilma. Os três, por sinal, pensam de forma semelhante. Por isso seus gestos igualmente similares. Kalil é uma espécie de Dilma menos analfabetizado. Herdou de Collor o histrionismo, as caretas e o raciocínio raso. Resulta, enfim, nessa peculiar disputa mineira um híbrido de empreiteiro com ecochatos, configurando um novo avatar. Só pela magia tal absurdo poderá se viabilizar concretamente. 



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