segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Belo Horizonte e os empreiteiros


Carrapato vai longe no lombo do boi. De igual maneira fazem, ou faziam, os empreiteiros nas suas relações com os políticos. Tal feliz conjunção, no entanto, começou a enfrentar problemas. Sua maior expressão está no processo conhecido por petrolão. Turvou-se mais ainda o quadro com a proibição de financiamento empresarial das campanhas políticas. Os empreiteiros, entretanto, perceberam um ganho imprevisto: não precisavam mais de intermediários entre eles e os cofres públicos. Até pela inutilidade do relacionamento que acarretaria mais ônus que bônus. Veio, então, a pergunta: "por qual razão se sujeitar à escroquerie habitual dos políticos?"

A resposta caminhou em sábia direção, em retomada do conselho joanino a Pedro I: "bote a coroa na cabeça antes que outro aventureiro o faça". Solução óbvia tão evidente que ninguém perceberia, como não percebeu. Faz lembrar a "Carta Roubada", de Edgar Poe: a missiva estava ali, à vista dos olhos, tão evidentemente posta que ninguém a localizava. 

Alexandre Kalil é a "carta roubada" dos empreiteiros, em articulação com o governador Fernando Pimentel. Este lançou um candidato do PT à prefeitura da capital mineira para servir de boi de piranha ao ódio popular contra o PT, Lula, Dilma e cia. Enquanto isso, vai realizando o passa moleque fingindo que apoia um enquanto, por baixo dos panos, fomenta outro que quase repete o mantra já utilizado pelo governador em sua última campanha para prefeito: o "bom de serviço", bordão que Kalil endossa com outras palavras em seu estilo deixa que eu chuto. 

Os caciques, ao que parece, se dividiram: o senador Aécio apoia João Leite; o prefeito de BH Márcio Lacerda patrocina Délio Malheiros; e Pimentel, vai de quem? Kalil, o empreiteiro trapalhão, é claro. A solução Kalil agrada, e muito, o sindicato das empreiteiras e, principalmente, ao governador, figura altamente qualificada em negócios envolvendo a política, bastando conferir um de seus rolos mais notáveis embutidos na operação Acrônimo. 

Kalil repete em seu discurso antipolítica a mesma verve de Fernando Collor e Dilma, os dois cassados da república. Ambos devem ter sido eleitos, cada um a seu tempo, com o voto do histriônico Kalil. Sua eventual vitória prenuncia nuvens negras para Belo Horizonte.     

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