O caro
leitor e a prezada leitora podem reparar: Eduardo Cunha e os petistas de modo
geral usam a mesma linguagem. Adotam métodos semelhantes e argumentos muito
parecidos para justificar as respectivas descidas ao inferno depois de
experimentarem as delícias do paraíso. A começar pela adoção do ataque como
defesa, estratégia que, no caso deles, nem sempre se mostrou a melhor
prática.
Aqui desmentem o velho lema, mas, no conjunto das desastrosas
obras, confirmam o ensinamento do dito segundo o qual quem almeja em excesso
acaba perdendo tudo. Sendo o pecado original e deflagrador da derrocada, a
perda de noção da realidade, atributo dos insensatos.
Começam satisfeitos com a conquista do poder, logo se deixam
embriagar por ele, em seguida se convencem da condição de onipotentes e em
pouco tempo transformam-se em napoleões de hospício, dizendo qualquer coisa que
lhes venha às cabeças, crentes de que são invencíveis a despeito das
circunstâncias adversas criadas por eles em sua incapacidade de reconhecer o
equívoco – quando lhes bate à porta ou quando já materializado na forma de
péssimas consequências.
A culpa é sempre dos outros. Dos primeiros aos últimos escândalos
de corrupção nos quase quatro governos do PT, Luiz Inácio da Silva e Dilma
Rousseff nunca sabiam de nada daquilo que o País via exposto em denúncias,
investigações, processos e condenações. A responsabilidade no início era de
grupos isolados ou de “traidores” da confiança alheia.
À medida que foi ficando impossível sustentar a alegação que
colocava ambos na condição de presidentes néscios, a culpa passou a ser da
perseguição dos adversários, da elite insatisfeita com a alegria dos pobres, da
ingratidão dos agraciados. Da arbitrariedade da Suprema Corte de Justiça, dos
excessos da Polícia Federal, da leviandade do Ministério Público, da maldade de
Joaquim Barbosa, da pérfida vaidade do juiz Sérgio Moro, dos golpistas
conspiradores, dos vingativos congressistas, do traiçoeiro vice-presidente
Temer, de Cunha o anjo mau maior.
Nada, nada mesmo a ver com a irresponsável e populista gastança,
com a abertura dos cofres públicos e do aparelho de Estado à sanha de ladrões,
com o menosprezo pelo contraditório, com a soberba petista no trato dos aliados
como subordinados. Com a arrogância de Dilma na imposição de suas convicções
erráticas, com a suposição de que popularidade e votos sirvam de salvo-conduto
ao vale tudo. Com a cínica negativa de evidências, impertinência autodefinidos
como heróis da resistência, com a compra de brigas erradas, as alianças
espúrias e a recusa em ouvir os que aconselhavam na direção do acerto e eram
mandados à companhia do agourento Velho do Restelo sem escusas pelo desrespeito
a Camões.
Eduardo Cunha também quis cair atirando sem dispor de munição
essencial: credibilidade. Anunciou a publicação de um livro “contando” tudo.
José Dirceu fizera o mesmo e desistiu da empreitada. Antes da carreira de
escritor, Cunha tem outras preocupações mais atinentes à residência onde Dirceu
vive restrição de liberdade.
Tido e havido como poderoso incondicional e visto em sua
imaginação como presidente da República, terminou na noite de segunda-feira
dono de escassos 10 votos. Frutos de seus tropeços. Da mentira, do uso da Casa
(por extensão dos colegas) como instrumento de seu desejo, da crença no lema
“comigo ninguém pode”. Nem o Ministério Público a quem desafiou na pessoa de
Rodrigo Janot nem a sociedade a quem pretendeu convencer da posição de
perseguido político, herói do impeachment, vítima de um golpe. Tudo culpa do
PT, da covardia eleitoral dos colegas, de uma urdidura do governo.
Há mais um traço de união entre Cunha e o PT, expresso em antigo
dístico: são anjos de candura amarrados pela cintura.
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