Muitos viram e ficaram chocados com as imagens de
um aluno ofendendo, assediando e tripudiando de uma professora numa escola
estadual de Araçuaí, em Minas Gerais. É, como disse, o retrato do fracasso de nosso ensino
público. São décadas de lavagem cerebral, de subversão de valores, de
relativismo moral, de descaso. Como muitos leitores colocaram, se a professora
superasse o medo e revidasse com mais firmeza, era capaz de ser duramente
atacada pelos “progressistas”, pois do outro lado havia um rapaz pobre, negro
e, ao que tudo indica, gay.
O fenômeno é complexo e abrangente, e está relacionado com a total
falta de respeito pelos professores e pela própria escola ou universidade.
Muitos “professores” têm culpa no cartório, pois foram negligentes, ou pior,
ativistas e militantes desse relativismo tosco, dessa quebra de hierarquias e
regras nas escolas. Os demais, talvez uma maioria silenciosa, pagam o preço, e
não conseguem mais lecionar com tranquilidade, pois os locais de ensino foram
dominados por marginais.
Em artigo publicado no dia 29 de maio, na Folha, o
professor de História da USP, Francisco Carlos Palomanes Martinho, desabafa
sobre essas condições absurdas nos ambientes universitários, transformados
em uma extensão das ruas, em terra sem lei. Seu relato merece nossa profunda
atenção:
"Chego às 13h30 e encontro um animado
grupo de percussionistas. Malgrado a péssima qualidade do som, o evento parece
aceito naturalmente em um local de trabalho inadequado para semelhante
“manifestação cultural”. Que, aliás, repete-se em quase todos os dias. Às vezes
em nome de alguma causa. Outras, sabe-se lá o motivo.
Justificáveis ou não, essas atitudes
servem rotineiramente para prejudicar a atividade-fim daquele espaço: a
docência e a pesquisa. E se assim é no modorrento horário da tarde, pior ainda
no da noite, quando ocorrem as famigeradas festas que, com níveis de
organização empresariais, simplesmente impedem que se trabalhe.
O que parece inacreditável em todo
esse ambiente é que ninguém consegue garantir o bom funcionamento de um espaço
destinado ao ensino e à reflexão. É terra sem lei".
Desde quando universidade é lugar para rodinha de samba? Em meus tempos
de PUC, o pilotis, onde futuros economistas e advogados queriam estudar ou
relaxar, era tomado por gente que vivia fazendo “protesto” ou teatro vagabundo,
após fumar maconha. Quem lhes deu esse direito? Quem disse que era permitido
usar um espaço público para essas coisas? Mas quem reclamava era acusado de
“reacionário” (na época não tinha o “coxinha” ainda) e até intimidado pela
horda de bárbaros que se julgavam “progressistas”. O professor continua seu
desabafo:
"O clima de banalização do espaço
universitário vai além. Basta uma greve, por exemplo, para que cadeiras sejam
retiradas das salas de aula e se transformem em barricadas a fim de impedir o
livre acesso de docentes, alunos e funcionários. Mobilização fácil essa que,
diga-se, resulta apenas no impedimento ao diálogo entre as partes conflitantes.
Além da vedação à troca de ideias,
muitas cadeiras, pagas pelos impostos da população, acabam, como é de se
esperar, danificadas, resultando em prejuízo para o Estado e para o
contribuinte.
Prejuízo, aliás, que virou rotina de
forma inacreditável. Só no ano passado, seis projetores foram roubados do
prédio da História e Geografia. Ninguém foi responsabilizado. A solução óbvia
seria a instalação de câmeras de segurança. Mas na USP contamos com a oposição
dos que acham que as mesmas resultarão em “controle”.
Como podemos ver, tudo está invertido. “Em nome de um discurso ideologizado,
impede-se a defesa do patrimônio público”, diz o autor. E tem mais: esses
alunos acham que as universidades são bolhas à parte do mundo real, da
sociedade, e que nelas as leis não valem. O professor discorda, e clama pelo
império das leis: “É proibido fumar em um ônibus? Na universidade também é. É
proibido consumir bebida alcoólica em repartições públicas? Na universidade
também é. É proibido apertar e acender um baseado em qualquer lugar, ao menos
por enquanto? Na universidade também é. A USP não é uma ágora separada do mundo
real. Fazemos parte dele”.
Esses alunos pensam que as universidades são parques de diversão, e com
isso destroem o ambiente que deveria ser propício para o aprendizado, a
reflexão, a troca de ideias. Uma minoria barulhenta e organizada prejudica a
vida de milhares de pessoas, com a conivência de alguns “professores” que
adoram ver o circo pegar fogo, pois são niilistas, socialistas, e odeiam o
“sistema”, que querem ver destruído mesmo. Até quando? Até quando vamos
permitir esse caos anárquico?
Conseguiram criar um monstro. O fim da disciplina, da hierarquia, do respeito às regras, liberou o gênio da garrafa, mas era um gênio do mal, abusado, sem limites. Um leitor foi preciso quando disse que, nos tempos modernos, chegamos ao cúmulo de ter que inverter a famosa música subversiva do Pink Floyd. Em vez de “Hey, teachers, leave them kids alone!”, agora precisamos adaptar: “Hey, kids, leave them teachers alone!” O pêndulo extrapolou para o outro lado…
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