segunda-feira, 1 de junho de 2015

Hey, kids, leave them teachers alone! (Rodrigo Constantino)










Muitos viram e ficaram chocados com as imagens  de um aluno ofendendo, assediando e tripudiando de uma professora numa escola estadual de Araçuaí, em Minas Gerais. É, como disse, o retrato do fracasso de nosso ensino público. São décadas de lavagem cerebral, de subversão de valores, de relativismo moral, de descaso. Como muitos leitores colocaram, se a professora superasse o medo e revidasse com mais firmeza, era capaz de ser duramente atacada pelos “progressistas”, pois do outro lado havia um rapaz pobre, negro e, ao que tudo indica, gay.

O fenômeno é complexo e abrangente, e está relacionado com a total falta de respeito pelos professores e pela própria escola ou universidade. Muitos “professores” têm culpa no cartório, pois foram negligentes, ou pior, ativistas e militantes desse relativismo tosco, dessa quebra de hierarquias e regras nas escolas. Os demais, talvez uma maioria silenciosa, pagam o preço, e não conseguem mais lecionar com tranquilidade, pois os locais de ensino foram dominados por marginais.

Em artigo publicado no dia 29 de maio, na Folha, o professor de História da USP, Francisco Carlos Palomanes Martinho, desabafa sobre essas condições absurdas nos ambientes universitários, transformados em uma extensão das ruas, em terra sem lei. Seu relato merece nossa profunda atenção:

"Chego às 13h30 e encontro um animado grupo de percussionistas. Malgrado a péssima qualidade do som, o evento parece aceito naturalmente em um local de trabalho inadequado para semelhante “manifestação cultural”. Que, aliás, repete-se em quase todos os dias. Às vezes em nome de alguma causa. Outras, sabe-se lá o motivo.

Justificáveis ou não, essas atitudes servem rotineiramente para prejudicar a atividade-fim daquele espaço: a docência e a pesquisa. E se assim é no modorrento horário da tarde, pior ainda no da noite, quando ocorrem as famigeradas festas que, com níveis de organização empresariais, simplesmente impedem que se trabalhe.

O que parece inacreditável em todo esse ambiente é que ninguém consegue garantir o bom funcionamento de um espaço destinado ao ensino e à reflexão. É terra sem lei".

Desde quando universidade é lugar para rodinha de samba? Em meus tempos de PUC, o pilotis, onde futuros economistas e advogados queriam estudar ou relaxar, era tomado por gente que vivia fazendo “protesto” ou teatro vagabundo, após fumar maconha. Quem lhes deu esse direito? Quem disse que era permitido usar um espaço público para essas coisas? Mas quem reclamava era acusado de “reacionário” (na época não tinha o “coxinha” ainda) e até intimidado pela horda de bárbaros que se julgavam “progressistas”. O professor continua seu desabafo:

"O clima de banalização do espaço universitário vai além. Basta uma greve, por exemplo, para que cadeiras sejam retiradas das salas de aula e se transformem em barricadas a fim de impedir o livre acesso de docentes, alunos e funcionários. Mobilização fácil essa que, diga-se, resulta apenas no impedimento ao diálogo entre as partes conflitantes.

Além da vedação à troca de ideias, muitas cadeiras, pagas pelos impostos da população, acabam, como é de se esperar, danificadas, resultando em prejuízo para o Estado e para o contribuinte.

Prejuízo, aliás, que virou rotina de forma inacreditável. Só no ano passado, seis projetores foram roubados do prédio da História e Geografia. Ninguém foi responsabilizado. A solução óbvia seria a instalação de câmeras de segurança. Mas na USP contamos com a oposição dos que acham que as mesmas resultarão em “controle”.

Como podemos ver, tudo está invertido. “Em nome de um discurso ideologizado, impede-se a defesa do patrimônio público”, diz o autor. E tem mais: esses alunos acham que as universidades são bolhas à parte do mundo real, da sociedade, e que nelas as leis não valem. O professor discorda, e clama pelo império das leis: “É proibido fumar em um ônibus? Na universidade também é. É proibido consumir bebida alcoólica em repartições públicas? Na universidade também é. É proibido apertar e acender um baseado em qualquer lugar, ao menos por enquanto? Na universidade também é. A USP não é uma ágora separada do mundo real. Fazemos parte dele”.

Esses alunos pensam que as universidades são parques de diversão, e com isso destroem o ambiente que deveria ser propício para o aprendizado, a reflexão, a troca de ideias. Uma minoria barulhenta e organizada prejudica a vida de milhares de pessoas, com a conivência de alguns “professores” que adoram ver o circo pegar fogo, pois são niilistas, socialistas, e odeiam o “sistema”, que querem ver destruído mesmo. Até quando? Até quando vamos permitir esse caos anárquico?

Conseguiram criar um monstro. O fim da disciplina, da hierarquia, do respeito às regras, liberou o gênio da garrafa, mas era um gênio do mal, abusado, sem limites. Um leitor foi preciso quando disse que, nos tempos modernos, chegamos ao cúmulo de ter que inverter a famosa música subversiva do Pink Floyd. Em vez de “Hey, teachers, leave them kids alone!”, agora precisamos adaptar: “Hey, kids, leave them teachers alone!” O pêndulo extrapolou para o outro lado…

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