quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Os cafajestes


O ministro Paulo Bernardo, consorte da ex-ministra Gleisi Hoffman, resolveu dar sua modesta contribuição aos costumes pátrios. Maus costumes, claro, pois que o ministro é um dos mandarins petistas, portanto, inimputável. Para ele é natural haver trapaças e atentados à Constituição. Pegados com a boca na botija, os espertalhões que estavam a sabotar a CPI da Petrobrás ficaram sem ter o que dizer. É o tal batom na cueca. Como explicar à patroa, ao chegar em casa, a comprometedora marca? Inexplicável, obviamente. A menos que se crie uma narrativa tão fantasiosa, tipo, "isso aconteceu, querida, porque uma jovem senhora que passava escorregou, quase caiu, exatamente ali onde eu estava fazendo xixi, ao pé de um árvore; estava muito escuro o local e, no tombo que a coitada tomou, ao inclinar o corpo, caiu, manchando minha roupa de batom". A versão se complica, no entanto, devido a um simples aspecto: a marca fatal estava na parte interna da cueca.


Pontificou solenemente o ministro, amicíssimo, aliás, daquele deputado sócio de notório doleiro que está recolhido atrás das grades:


"Na primeira CPI já deve ter acontecido isso. Vem desde Pedro Álvares Cabral. A não ser que queiramos fingir que somos todos inocentes, que somos muito hipócritas, e falar que isso não acontece (referia-se ao conluio do palácio do Planalto, a Petrobrás e os senadores petistas e aliados para melar as investigações). Isso é uma tempestade em copo d'água - prosseguiu - que fizeram para ver se alavanca a oposição".

Bem, segundo tal incrível concepção, se um irmão der um tiro na cabeça do outro, ele estará absolvido. Afinal de contas, essa prática é antiga. Caim não matou Abel? Coisa pouca, ora. Escravizar os outros também é um velho costume, não sejamos hipócritas. Os fazendeiros pilhados reduzindo homens à condição análoga ao do trabalho escravo, bem poderão convidar o ministro para depor em seu favor. E essa tal lei Maria da Penha? Mulheres sempre tomaram uns bofetões dos maridos e companheiros. Coisa mais natural, então, qual o problema? E tapinhas de amor nem doem, dizem os entendidos. Os mensaleiros petistas condenados pelo STF deveriam reivindicar absolvição e, mesmo, uma gorda indenização, pois que, patriotas de escol, só fizeram aquilo que Newtão, Maluf, Sarney e outros próceres sempre fizeram. Qual o problema, indagaria certamente o ministro Paulo Bernardo? Não sejamos hipócritas, em conformidade com seu bordão. 

O ministro Paulo Bernardo ainda foi além da imaginação. Botou até o pobre do Pedro Álvares Cabral no seu suruba ético e moral. Não demora muito, ele vai incluir na sua galeria algum santo da Igreja. E eles existem: São Paulo e Santo Agostinho que se cuidem. Este último, então, é um rico manancial. Estão lá em nas Confissões suas peripécias antes de se converter pelas mãos de sua mãe - Santa Mônica. Papini também deu notas esclarecedoras a respeito do ilustre Doutor da Igreja na sua obra A Vida de Santo Agostinho. 

Como, ao que parece, a vida anda imitando muito a arte, devemos render um tributo a Jece Valadão, grande ator brasileiro já falecido. Um de seus filmes antecipou em meio século o espírito que preside o modus operandi do petismo: Os cafajestes! A cafajestagem será o núcleo da herança maldita que Lula, Dilma e companheirada deixarão para os brasileiros. Uma incurável doença do espírito, é o que receberemos em breve.

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