quarta-feira, 6 de agosto de 2014

1974 - 2014

Quarenta anos atrás, em 1974, o regime militar encontrava-se no seu auge. Era a culminância do milagre brasileiro, comandado por Delfim Netto. O povo estava satisfeito pelo aumento da capacidade de consumo de bens duráveis: feliz como pinto no lixo. O então ministro da Fazenda obtivera com isso o máximo de rendimento político e eleitoral para as forças então dominantes. Delfim Netto, aliás, ainda vivo e prestigiado conselheiro de Lula da Silva, era o czar da economia. O que se chamou de milagre imaginado por ele era uma espécie de PAC da época. O triunfalismo era a pedra de toque. Isso é mais que sabido por quem estudou ou viveu naqueles anos.

Nas eleições majoritárias possíveis - não se votava para governador, presidente e prefeito de certas cidades, somente para senador - a surda e crescente insatisfação popular se manifestou de maneira contundente, em 1974. O velho MDB elegeu a grande maioria de senadores para as vagas em disputa. Na eleição para deputado federal houve igual sucesso. Até Nelson Thibau (um folclórico personagem de Belo Horizonte, ao estilo Tiririca), depois de se ajoelhar frente às então precárias câmaras de TV, conseguiu um mandato; foi o único; depois de ser deputado federal nunca mais se elegeu para qualquer cargo, apesar de perseverantes tentativas. A partir desse ano, o regime militar entrou no caminho do colapso, apodrecendo a cada dia mais um pouquinho, até o desenlace final, já nos anos 80.

Atualmente se vive uma situação similar. O povo está de saco cheio de Lula, Dilma, PT, PAC's, da corrupção, velhacarias e principalmente da falta de vergonha na cara dos políticos governistas. As pesquisas indicam um desejo de mudança. Este é o pano de fundo onde se desenrolará a batalha de 5 de outubro. Dona Dilma é muito parecida com Garrastazu Médici. O antigo e truculento general foi cúmplice e autor de algumas tragédias; a balofa e atual presidente segue a triste sina que lhe foi reservada: a de personagem de uma farsa monumental. Dona Dilma é a imagem especular e invertida de Médici. Este, no entanto, ainda podia comparecer ao Maracanã em dias de jogos. O povo o aplaudia, ao contrário da madame, tornada a Geni do momento, conforme se viu na última copa do mundo.

Em 1974, Tancredo hesitou em sair para disputar a vaga senatorial de Minas. Avaliou, com sua proverbial prudência, que ainda não era o  momento de enfrentar o regime. Seu vacilo abriu as portas para um homem audacioso e íntegro que aceitou ir para a disputa: Itamar Franco. Pouco conhecido então, conduziu uma campanha de Davi contra Golias. O ilustre e respeitável ex-presidente, ex-governador, ex-prefeito de Juiz de Fora e ex-senador interpretou corretamente o sentimento, o espírito vigente daquela época. Arrostou as dificuldades, o ceticismo e a preguiça de muitos e correu Minas Gerais com sua pregação política, sem fazer as promessas habituais dos candidatos que vivem a acenar com casa, comida e roupa lavada para todos. Itamar nunca decepcionou os mineiros. Com seus libelos honrou a tradição libertária das Minas Gerais.

Aparentemente provinciano, Itamar Franco foi um dos maiores estadistas do Brasil. Quando se o compara com os atuais senadores da república, percebe-se a distância que há entre anões e gigantes. Itamar não se calaria frente às trapaças e cafajestagens persistentes que transformaram o Senado Federal numa Casa do Espanto. Espanto, pelas espantosas velhacarias que ali se praticam dia-a-dia. Senado é, historicamente, um lugar de velhos, não de velhacos. O país vive um bom momento para se livrar de múmias e arrivistas que degradam aquela casa legislativa.

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