sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O favorito da madame

Emilinha Borba, cantora de cabarés e programas de auditório nos tempos áureos da radiodifusão, era conhecida como a “favorita da marinha”. Disputava com outra famosa artista popular – a Marlene - o lugar mais alto no pódio da breguice pátria. O pastelão atemporal, característico de nossas mais caras tradições, se repete em outras instâncias da vida nacional num fenômeno de natureza virótica. No campo político, então, a comédia é tão evidente que torna difícil fazer até uma simples caricatura que facilite seu entendimento. Dona Dilma, por exemplo, tinha uma favorita: madame Erenice Guerra, ungida ministra da Casa Civil, ainda no governo Lula da Silva, por expressa determinação da primeira amiga. Imagens e reportagens a seu respeito são encontradas facilmente na internet. Uma criatura tão esquisita que não conseguia ser objeto de cartunistas. Qualquer charge ficava melhor que o modelo original.
   
Dona Dilma, no entanto, não consegue viver sem um chalaça por perto. Defenestrada por estripulias da mais bisonha vulgaridade, madame Erenice voltou ao submundo de Brasília, devotada ao lobismo ou tráfico de influência típicos da capital da República. Para o lugar vacante agigantou-se, todo lamecha, o ex-prefeito de Belo Horizonte – Fernando Pimentel – especialista em aloprados e sujeiras eleitorais, designado coordenador da campanha presidencial da mãe do PAC.

Vitoriosa na eleição de 2010, dona Dilma trouxe para bem junto de si, o novo quindim do planalto. Disfarçado de ministro da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior, Fernando Pimentel se tornou o Primeiro-Acompanhante e Melhor Amigo da presidente, com quem convive desde quando tentavam trocar a tiros a ditadura militar pela ditadura do proletariado. A força do afeto  manteve Pimentel no emprego mesmo depois da descoberta de que ganhou muito dinheiro usando as fantasias de “conferencista” e “consultor financeiro”. O palestrante enriqueceu sem abrir a boca. O consultor precisou de meia dúzia de conselhos para levar à falência uma fábrica de tubaína, lá em Pernambuco.

Pimentel, o favorito da madame, é mestre no enrolation. Graças a este talento, cresceu em prestígio no círculo íntimo do poder. Exemplo notável foram seus esclarecimentos a respeito das cláusulas de estranhos negócios articulados por ele: “eles envolvem informações estratégicas”, ao explicar por que decidiu classificar como secretos os documentos que tratam dos financiamentos do Brasil aos governos de Cuba e de Angola, que adiou para 2027 a divulgação do conteúdo dos papéis, ensinando que, na novilíngua companheira,  “informação secreta” quer dizer prova do crime. É o espírito vivo de Humpty-Dumpty.


Com tal pedigree, o favorito de madame Dilma quer, agora, ser governador de Minas Gerais. Aliado à turma de Newton Cardoso, dá para imaginar o que nos esperaria em sua eventual vitória.  


(As melhores palavras e conceitos devem-se a uma colaboração involuntária de Augusto Nunes).

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