Emilinha Borba, cantora de cabarés e programas de
auditório nos tempos áureos da radiodifusão, era conhecida como a “favorita da
marinha”. Disputava com outra famosa artista popular – a Marlene - o lugar mais
alto no pódio da breguice pátria. O pastelão atemporal, característico de
nossas mais caras tradições, se repete em outras instâncias da vida nacional
num fenômeno de natureza virótica. No campo político, então, a comédia é tão
evidente que torna difícil fazer até uma simples caricatura que facilite seu
entendimento. Dona Dilma, por exemplo, tinha uma favorita: madame Erenice
Guerra, ungida ministra da Casa Civil, ainda no governo Lula da Silva, por
expressa determinação da primeira amiga. Imagens e reportagens a seu respeito
são encontradas facilmente na internet. Uma criatura tão esquisita que não conseguia
ser objeto de cartunistas. Qualquer charge ficava melhor que o modelo original.
Dona Dilma, no entanto, não consegue viver sem um chalaça
por perto. Defenestrada por estripulias da mais bisonha vulgaridade, madame
Erenice voltou ao submundo de Brasília, devotada ao lobismo ou tráfico de influência
típicos da capital da República. Para o lugar vacante agigantou-se, todo
lamecha, o ex-prefeito de Belo Horizonte – Fernando Pimentel – especialista em
aloprados e sujeiras eleitorais, designado coordenador da campanha presidencial
da mãe do PAC.
Vitoriosa na eleição de 2010, dona Dilma trouxe para bem
junto de si, o novo quindim do planalto. Disfarçado
de ministro da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior, Fernando
Pimentel se tornou o Primeiro-Acompanhante e Melhor Amigo da presidente, com
quem convive desde quando tentavam trocar a tiros a ditadura militar pela
ditadura do proletariado. A força do afeto manteve Pimentel no emprego
mesmo depois da descoberta de que ganhou muito dinheiro usando as fantasias de
“conferencista” e “consultor financeiro”. O palestrante enriqueceu sem abrir a
boca. O consultor precisou de meia dúzia de conselhos para levar à falência uma
fábrica de tubaína, lá em Pernambuco.
Pimentel, o favorito da madame, é mestre no
enrolation. Graças a este talento,
cresceu em prestígio no círculo íntimo do poder. Exemplo notável foram seus esclarecimentos
a respeito das cláusulas de estranhos negócios articulados por ele: “eles
envolvem informações estratégicas”, ao explicar por que decidiu classificar
como secretos os documentos que tratam dos financiamentos do Brasil aos
governos de Cuba e de Angola, que adiou para 2027 a divulgação do conteúdo dos
papéis, ensinando que, na novilíngua companheira, “informação secreta”
quer dizer prova do crime. É o
espírito vivo de Humpty-Dumpty.
Com tal pedigree, o favorito de madame Dilma quer, agora, ser
governador de Minas Gerais. Aliado à turma de Newton Cardoso, dá para imaginar
o que nos esperaria em sua eventual vitória.
(As melhores palavras e conceitos devem-se a uma colaboração involuntária de Augusto Nunes).
(As melhores palavras e conceitos devem-se a uma colaboração involuntária de Augusto Nunes).
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