quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Árbitro supremo, o acaso governa tudo... (em Paraíso Perdido, de Milton)

O quadro político nacional sofreu uma incrível modificação com a morte de Eduardo Campos, num acidente aéreo em São Paulo, no último 13 de agosto, este mês fatal na vida brasileira. Não se sabe ainda os rumos que sua coligação partidária tomará, nem o impacto da tragédia junto à opinião pública. Possivelmente, o cômodo jogo de compadres entre os petistas e os tucanos perderá as escoras que o sustentam. Não subsistirá mais. O sentimento de mudança, no mínimo latente, na sociedade brasileira, pode encontrar agora um caminho por onde fluir. O cavalo está arreado esperando ser montado. Dependerá de Marina Silva.

A curiosa situação de dona Dilma - rejeitada por grande parte da população, porém favorita até agora, conforme resultados das últimas pesquisas - começará a se dissolver, caso Marina assuma o lugar do ex-governador pernambucano. A surda inquietação da boiada, tangida em indolente marcha por caminhos já conhecidos mas indesejados, sofre o choque de um raio que cai de um céu escuro. Parte do rebanho que já se desgarrara rompe através de outro trilho, e arrasta consigo a vasta multidão que seguia para o rumo do mesmo, em bovina submissão. Dificilmente os condutores da massa informe conseguirão conter o estouro depois deste começado. Dona Dilma está fotografada!

Os estrategistas de dona Dilma talvez apostem no tempo de TV como arma infalível a ser usada pela madame. Ledo engano. Ulisses Guimarães possuía um latifúndio no horário eleitoral da campanha de 1989 e, no entanto, amargou fragorosa derrota para Collor. Dona Dilma é enfadonha, grosseira e untuosa. O tempo de TV para ela é uma condenação. Quanto mais aparecer, pior para suas pretensões. O espírito do tempo - zeitgeist - igualmente joga contra ela. Os petistas não conseguirão pregar na testa de Marina a pecha de serviçal da classe dominante. A ex-senadora é asceta, pobre e evangélica; lembra mais a figura de Ghandi. Uma simples comparação de perfil físico com a rotunda e repolhuda presidente dirá, mais que mil palavras, algo sobre quem é quem. Mais provável será uma migração da base petista histórica para as hostes de Marina. Esta terá algo a oferecer (ao menos, uma boquinha), dada a ausência de quadros profissionais entre os socialistas para governar. Que ninguém se espante se Marina for ao segundo turno a disputar com Aécio. Afinal, o governo de dona Dilma é tão ruim que até os petistas querem mudá-lo.

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