sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

CORRUPÇÃO TRANSPARENTE

O mais recente escândalo do regime lulista – o dos cartões corporativos – tem provocado reações de oposicionistas pregando mais transparência como antídoto à roubalheira. Apenas para recordar o bom Aurélio, transparência é a qualidade do que é transparente, ou que se deixa atravessar pela luz. Em sentido figurado é aquilo que deixa perceber um sentido oculto. Enfim, refere-se ao que é evidente e claro. Em vista dos inumeráveis exemplos que a grande imprensa divulga quase todos os dias (a respeito das práticas de Lula e da respectiva companheirada), se há algo de que não se pode reclamar do petismo é justamente a transparência. As falcatruas são feitas a céu aberto. Parece, mesmo, que há um propósito deliberado de se cometer transgressões à vista de todos, como a afronta de Absalão a Davi, estuprando quatro de suas mulheres em público. Tem-se a impressão que o objetivo final é a desmoralização das estruturas normativas vigentes. Um cinismo militante de grande eficiência solapa a base dos valores que fundam o ordenamento social.

Se algum ingênuo denuncia atos de corrupção, qual a resposta oficial? Dizer que outros também se corromperam, como se os crimes passados justificassem os crimes presentes. Digamos que uma pessoa escravize um semelhante. Que pegue um afro descendente ou uma afro descendente (para ser politicamente correto, como os tempos exigem), e os coloque num tronco, dando-lhes periódicas boas chibatadas. Se questionado por alguém poderá responder (adotando o espírito do lulismo), que escravidão é normal, que é um ato comum, que sempre se fez assim em outras épocas. Poderia, até, lançar uso da resposta padrão dos delinqüentes atuais quando pilhados em flagrante: “estou tranqüilo!” e tudo ficar por isso mesmo. O professor Delúbio, aliás, com a sapiência filosófica que costuma cercar os matemáticos, definiu bem o destino final das denúncias comprovadas do mensalão. Segundo ele, tudo acabaria virando piada de salão! Gostemos, ou não, do diagnóstico não se pode deixar de aplaudir esta cintilante verdade. O PT é, de fato, o partido dos humoristas. Mas de humoristas masculinos, frise-se. As mulheres petistas, não se sabe se devido à influência lunar nos seus humores, ou por algum defeito genético, apresentam-se sempre em público com carantonhas de mau humor. Alguém já viu covinhas meigas em sorriso claro da parte da ministra Dilma? Ou a pavorosa senadora Ideli Salvatti expressando, feliz, alegre manifestação no seu semblante? A máscara mortuária de algumas de melhor catadura, como a ministra Suplicy, parece congelada, embebida em toneladas de botox. E a cara de cachorro-que-quebrou-o-pote da ex-ministra Matilde quando denunciaram a farra dos cartões corporativos? Fazendo pose de humilde a madame esconde suas altas qualificações pessoais e institucionais, a fim de obter comiseração pública. No entanto, ela não era nenhuma "maria ninguém". Era, sim, uma mulher poderosa. Foi membro destacado da cúpula que compunha a Comissão de Programa de Governo de Lula, em 2002, ao lado de Palocci, Marco Aurélio Garcia, Aloízio Mercadante, Luiz Marinho, Marina Silva, Oded Grajew, Luiz Dulci, Patrus Ananias, Tarso Genro e outros, para ficar apenas em alguns nomes notórios. Esta turma toda ainda tinha vínculos orgânicos com o Instituto Cidadania, organização fundada e dirigida por Luiz Inácio, o Lula, centro de formulação dos projetos de poder adotados pelo PT. Difícil acreditar que, convivendo lado a lado com tão experientes mandarins, ela nunca tenha ouvido falar do significado legal de peculato e das regras que devem ser obedecidas pela administração pública. Mais surpreendente neste caso de D. Matilde é o fato dela ocupar cargo ministerial por mais de cinco anos, e ainda alegar em sua defesa do indefensável o desconhecimento das leis que vigem “neste país”. Teve, ainda, a coragem de afirmar ter sido induzida ao “erro” por algum obscuro assessor. Burrice dela, portanto, não foi; covardia, alguma, por não assumir os próprios atos. O cinismo, sim, foi demasiado, ao achar que ninguém iria perceber seus crimes e, se percebesse, não faria a menor diferença, em sintonia com a doutrina que orienta seu chefe e o restante da companheirada.

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