terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

DESPOLITIZANDO BH

Mineiros e, principalmente, belorizontinos sempre se orgulharam de seu ativismo político. Suas escolhas nos momentos críticos da história estão marcados pelo signo do Alferes, símbolo maior de independência e grandeza de visão. Esta notável herança está sendo ameaçada, presentemente, por aqueles que pretendem despolitizar a próxima eleição para prefeito da capital. Depois de duas décadas de comando sobre o destino da cidade (com o PSDB entre 89 e 92, e o PT de 1993 até o presente), os dois alegres parceiros querem, agora, dividir o bolo ao meio. Matutos do sertão dizem que esse racha eqüivale a cada um ficar com meia banda do porco morto. Ora, qual a razão de não se permitir ao cidadão fazer um julgamento de tudo que foi feito, até agora, pelos políticos dos dois partidos? Noves fora o atentado à soberania popular, os exemplos de parcerias duvidosas como a pretendida são nefastas para a população. Para ficar somente num caso, veja-se a “aliança” entre o PMDB e uma fração rebelada da ARENA, na sucessão do general Figueiredo. O resultado foi o malsinado período Sarney, de triste memória!
Naquele momento ainda se podia alegar uma necessária transição de um período autoritário para tempos mais amenos. Mas que ameaças estaríamos a viver, hoje, a ponto de se ter que recorrer a um conchavão desavergonhado? Os eleitores da capital nunca deram bola para falsos argumentos, como o que defende uma obrigatória sintonia entre a prefeitura e os governos estadual e federal. Isto soa, sim, como reles chantagem que, além do mais, subestima a inteligência das pessoas. Presidente, governador e prefeito podem muito bem pertencer a partidos antagônicos, sem que isto comprometa os interesses do povo. Esta tensão, ao contrário, seria até benéfica. Se assim não fosse, o Maranhão seria um verdadeiro Jardim do Éden, bem como Alagoas e outros estados nordestinos, em vista da presença de seus maiorais no comando da política local, regional e nacional. Os indicadores sociais, no entanto, mostram o miserê das populações daqueles estados, numa demonstração de que aliança espúrias são, de fato, um risco para os cofres públicos. Pactos como este levam a mensalões, cartões corporativos, acobertamentos de malfeitorias e outras sinecuras mais. As forças políticas de Belo Horizonte precisam repudiar esta tentativa equivocada de colocar a cidade numa posição de menoridade cívica. A capital mineira não ficará na letargia imaginada e desejada por alguns. Um prefeito concebido nos desvãos dos palácios será um boneco de engonço, uma espécie de Sarney municipal, decorativo e nulo.

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