quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

O professor terrorista franco argelino e as 1001 Noites


O caso do terrorista franco-argelino (atualmente professor da UFRJ), causa uma certa perplexidade na maioria das pessoas. Fica sempre muito difícil associar alguém, aparentemente qualificado e comprometido com o conhecimento científico, com atos de barbárie, de morte e destruição. A França, no entanto, condenou-o a cinco anos de prisão pelos seus vínculos, provados, com a famigerada Al Qaeda. 

O fato de alguém ser professor, por mais competente que seja, não o isenta de praticar tolices e outros atos condenáveis. A própria sabedoria de extração islâmica dá um magnífico exemplo dessa lamentável possibilidade em uma das narrativas de Sherazade (a noite de número 547), do extraordinário livro As mil e uma noites. Por outros inumeráveis casos conhecidos no Brasil, há que se ter muita cautela no trato com professores. Uma listagem exaustiva daqueles capazes... capazes de tudo, muito provavelmente, cobriria o espaço equivalente ao das antigas listas telefônicas.



Noite 547 - (*) "Dii oderunt, paedagogum fecerunt"


                  HISTÓRIA DO PROFESSOR PIRADÃO


- E consta que havia antanho um extraordinário professor. Em um dia qualquer entrou na escola um homem, destes bem situados na vida. Logo se assentou e pôs-se a colocar à prova os conhecimentos do mestre.

E comprovou que ele estava muito versado nos assuntos de Gramática, de Retórica e Poética e que era, além disso, um homem muito inteligente e de muita urbanidade. E o homem se maravilhou, porém, disse para si mesmo, com a devida cautela: “Os que educam as crianças nos colégios não podem, apesar de tudo, ser homens inteiramente sensatos”.

Eis, então, que o homem já ia saindo quando o professor se aproximou dele e lhe disse:

- Esta noite o senhor será meu hóspede.

Aceitou o outro o convite e foi-se com o professor à sua casa onde este dispensou a seu hóspede todo tipo de honraria bem como comeu à mesa com ele.

E os dois comeram e beberam e logo se envolveram num bate-papo tão agradável que passaram uma terça parte da noite conversando.

O professor mandou preparar, então, uma cama para seu hóspede e, em seguida, recolheu-se a seu harém.

Mas, apenas havia o hóspede se recostado e mal começado a colher o sono, quando de repente uma grande gritaria – vinda do harém - feriu seus ouvidos, ao que ele, surpreso, perguntou:

- O que foi que aconteceu?

E lhe responderam:

- Pois que ao patrão lhe acaba de ocorrer algo espantoso e está, ao que parece, que a alma vai exalar-se-lhe.

Ouvindo isso exclamou o hóspede:

- Levem-me logo até ele!

Conduziram-no para onde estava o professor e, ao entrar no quarto, encontrou-o sem sentidos, deitado ao solo, e manando sangue de seu corpo.

O hóspede, então, jogou-lhe água no rosto e, logo que voltou a si, lhe perguntou:

- Mas o que foi que te sucedeu? Estavas tão alegre e sadio quando nos despedimos para ir dormir!

E o professor retrucou:

- Olha, meu irmão: tens que saber que, assim que te deixei, vim e me assentei com o objetivo de meditar um pouco sobre as obras de Alá, o Sublime. E disse para mim mesmo: “Em tudo quanto Alá criou para o homem se encerra alguma utilidade, pois Ele, o muito digno de louvor, criou as mãos para apreender, e os pés para caminhar, e os olhos para ver, e as orelhas para ouvir, e o pênis para engendrar, e assim tudo o mais, sendo os testículos os únicos que não reportam qualquer benefício”. Assim, peguei minha navalha de barbear, que tinha ao alcance de minha mão, e me os cortei. E disso me seguiu o que pudeste ver.

E o hóspede, ao ouvir aquilo, deu meia volta e se afastou, falando para si em silêncio: “Está visto que tinha razão aquele que disse que nenhum professor podia ser pessoa de inteligência completa, mesmo que dominasse todas as ciências”.

(*) Aquele a quem os deuses odeiam, fazem-no professor.

(Tradução livre da “Historia Del Maestro de Escuela, el Chiflado", in 1001 Noches").

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