Teodiceia é a parte da teologia que investiga as origens do mal.
Trata, portanto, de perguntas que angustiam o ser humano desde tempos
imemoriais.
No Brasil, essa disciplina teológica tem milhões de cultores – e
não sem razão. Por que nosso país se desenvolveu muito menos do que poderia e
permanece impotente para erradicar sua imensa chaga de pobreza? Por que temos
uma multidão de analfabetos funcionais e um sistema educacional vergonhoso?
Como pudemos chegar a índices absolutamente espantosos de corrupção e
criminalidade violenta?
Durante séculos, centenas de eruditos escritores, ensaístas e
antropólogos perscrutaram nossa História em busca das raízes profundas de
nossos males. Sem pendor para inquirições tão abrangentes, tentarei examinar a
questão em função do momento imediato. A questão, agora, é que o enorme estoque
de maldições que a História nos legou entrou numa trajetória de acelerado
crescimento. Podemos afirmar sem temor a erro que o futuro da próxima geração
será rapidamente destruído se nada for feito para reverter tal processo. A raiz
desse mal específico está à vista de todos: um governo grotescamente
incompetente, prepotente e sem rumo.
As alternativas ao nosso alcance são, pois, meridianamente
claras: ou o impeachment, para que um novo governo se possa organizar sobre os
escombros do atual, ou deixar o País por mais três anos nas mãos de Dilma
Rousseff e de tudo o que ela representa.
No plano jurídico, a presidente é acusada (originariamente pelo
Tribunal de Contas da União) de se haver posto acima das leis que regem a
aplicação dos recursos públicos. Na economia, ao contrário do que ela insiste
em repetir, o desastre não decorreu de fatores externos, nem primacialmente de
um Congresso hostil, muito menos de uma oposição demoníaca. Decorreu de sua
obstinada teimosia, de seu desábito de fazer uso dos órgãos auriculares e de
sua formação sabidamente diáfana em economia. O resultado aí está: 4,5 de
recessão nos últimos 12 meses; a inflação subindo lépida e fagueira para a casa
dos dois dígitos, apesar da taxa básica de juros em 14,5%; e uma legião de
indivíduos abatidos pelas agruras presentes do desemprego, ou por maus
presságios quanto ao médio prazo no mercado de trabalho.
A principal causa do que acontece no futuro é, como se sabe, o
que acontece no presente. Daí minha curiosidade em saber como certos setores da
sociedade se vão comportar nos próximos dias: se irão à rua ou se preferirão acompanhar
as manifestações pela TV, endossando implicitamente a continuação do atual
estado de coisas.
Os grandes empresários, por exemplo. Como explicam a origem do
mal é algo que ignoro por completo. O bem – a crer nos ensinamentos de um
celebrado filósofo – provém das tetas do Estado. No momento atual, o que os
influencia mais: a recessão brutal em que o País se encontra ou o estado de
bem-aventurança que o BNDES lhes assegurou sob Lula e Dilma?
No pequeno e médio empresariado, o que desde há muito me impressiona
é sua tendência a crer em duendes. No passado recente muitos acreditaram que o
Brasil, tendo atingido a invejável marca de metade ou mais da população na
“classe média”, estaria batendo às portas do Primeiro Mundo. Não se deram conta
de que o modelo de crescimento acalentado pela sra. presidente não tem espaço
para um pequeno empresariado moderno, com amplo acesso a crédito e tecnologia e
a um mercado em expansão sem os artifícios do financiamento ao consumo. Por
que, então, os menciono? Para brincar de humor negro? Não. Menciono-os porque
ninguém como eles pode aquilatar o desastre econômico a que o País foi levado.
Ninguém enxerga tão rapidamente a expressão “passa-se o ponto”, hoje visível em
todo o Brasil.
Os pequenos e médios empresários trabalham como mouros, pagam
impostos e arriscam seu capital. A mortandade de suas empresas é um espetáculo
tão feio quanto a de peixes num rio cheio de mercúrio. Será que perscrutam a
alma e nela creem ver um aceno do BNDES? Deve ser por isso que ainda hesitam em
ir à rua exigir o fim do presente desgoverno.
E os líderes sindicais, saberão eles pelo menos quantos postos
de trabalho foram para o vinagre graças à clarividência econômica da “doutora”
Dilma? Onde está aquela meia dúzia de bravos que um dia jurou desmontar a
organização sindical que os castrava? Ora, meus caros leitores, a vanguarda
sindical daqueles tempos se associou ao PT e com ele se “reapelegou”.
Os estudantes universitários sabem que o sistema público vive
uma situação de extrema penúria e o privado cobra os olhos da cara. Por que
diabos isso estará acontecendo, se o governo federal está nas mãos do PT, se
desde 2003 todos os ministros da Educação foram do PT, se o PT se proclama o
mais lídimo representante da educação e da cultura e se o ambiente ideológico
das universidades é sabidamente de esquerda? Será talvez porque a mãe, num
incontido acesso de fúria, resolveu devorar os filhos?
Por último, os governadores e parlamentares federais. Tempo
houve em que os governadores se comportavam como os eleitores esperam: como
representantes de seus Estados, em primeiro lugar. Atualmente, é constrangedor
observar a facilidade com que coonestam a pretensão populista de governar ao
arrepio das leis, como pretendem Dilma Rousseff, seu mentor e seu partido.
Espetáculo ainda pior é o que muitos parlamentares federais nos
têm proporcionado, comportando-se ora de forma errática, ora como terceirizados
do Executivo, ora como diligentes despachantes federais. Oxalá me desmintam nos
próximos dias, saindo às ruas e ostentando, na hora da verdade, a altivez que o
mandato eletivo e a vida pública pressupõem.
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