quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Pixulecos e bolsas (publicado em 11/08/2015 no jornal O Tempo)



falta de vergonha do petismo só se compara à sua superlativa capacidade de forjar novas expressões linguísticas: uma portentosa imaginação. Desfilando pelos subterrâneos à cata de bons créditos, conforme é público e notório, não deixaram, todavia, de se preocupar com a necessidade de linguagem mais adequada aos tempos em que vivemos.  Lula, Dilma e Vaccari – sem desmerecer outras inumeráveis cabeças tronchas da hidra governante - constituíram, sem nenhuma dúvida, uma rica variedade de conceitos (maracutaia, mulher sapiens e pixuleco são exemplos pontuais), que ficarão gravados na memória nacional.

Verdade que tais expressões têm algo de grotesco, que até faz rir, num primeiro momento. É – pode-se pensar - talvez seja apenas uma piada, um dichote feito para desanuviar o ambiente. Afinal, essa gente inzoneira é muito criativa. Passado o espanto, fica a suspeita se aquelas não guardariam relação mais íntima com dialetos próprios do submundo (aos quais recorrem os prisioneiros das cadeias e penitenciárias), a fim de iludir e despistar os guardas. Algum profissional das letras ainda fará, no futuro, um exame desta “língua de congo” nascida nos porões dos palácios brasilienses no já longo mandarinato petista.

Pixuleco, ao que parece, é uma variedade de propina na sua forma mais avantajada. Quando se diz propina, esta se parece mais com gorjeta, gratificação modesta que se dá aos prestadores de serviços na esfera privada: garçons, barbeiros, carregadores, porteiros de hotel, motoristas de táxi e outros. Pixuleco, não. Pixuleco é negócio gordo, monumental, coisa de branco. Aplica-se, tão somente, a untuosos contratos feitos com a administração pública - aqueles, de dimensões babilônicas - que se expressam na casa dos bilhões de reais, quando não de dólares. Sua materialização exige alto grau de sofisticação entre os parceiros. Cabe, mesmo, um bom conhecimento do mercado de arte, além do mercado financeiro nacional e internacional.


Em outros tempos vigorava o capilé, uma merreca extraída da administração pública de diferentes maneiras. Como método ainda não perdeu sua validade; coexiste com o pixuleco sem maiores contradições. As bolsas de todos os tipos, inclusive a bolsa-família, podem ilustrar o fenômeno do capilé. Para os miseráveis, uns trocados a mais não deixam de ajudar no supermercado, é claro. Aqui, qualquer espórtula é sempre bem vinda. Já em outras esferas, mais próximas das classes médias - no mundo acadêmico, por exemplo - o unto é mais substancioso e, ainda por cima, isento de imposto de renda. E não poderia ser de outra forma, pois, se não o fosse, o sepulcral silêncio nas universidades já teria sofrido uma buliçosa metamorfose. Alguns arreganhos vêm sendo divulgados, com greves, ou ameaças de fazê-las, se a fonte secar. Nada, no entanto, que a cornucópia governamental não possa suprir para acalmar a tigrada. Enfim, eis a pátria educadora.

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