"Que WikiLeaks, que
Swissleaks, que cartéis mexicano e colombiano de drogas, que Fifagate, que
nada! O escândalo top do mundo hoje é outro. Nada se lhe compara em grandeza
aritmética, ousadia delituosa ou desrespeito a valores éticos. E é coisa nossa!
Embora nada tenhamos a nos orgulhar de que o seja. Ao contrário!
Após se ter oposto
ferozmente à escolha de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral para dar início à
Nova República; à posse e ao governo de José Sarney, a Fernando Collor, que
ajudou a derrubar; ao sucessor constitucional deste, Itamar Franco, de cuja
ascensão participou; e a Fernando Henrique Cardoso, o Partido dos Trabalhadores
(PT) chegou ao governo federal com seu maior líder, Luiz Inácio Lula da Silva,
e se lambuzou no pote de mel do poder sem medo de ser feliz.
O primeiro objetivo caiu-lhe no colo como a maçã desabou sobre a cabeça
de Newton. Era de uma obviedade acaciana. Sob crítica feroz da oposição, que o
PT comandava, os tucanos privatizaram a Telebrás e, devidamente desossado, o
filé apetitoso das operadoras de telefones foi devorado na nova administração.
Sob as bênçãos e os olhos cúpidos do padim Lula, a telefonia digital foi
entregue a consórcios nos quais se associaram algumas operadoras
internacionais, com a experiência exigida no ramo, burgueses amigos e fundos de
pensão, cujos cofres já vinham sendo arrombados pelos mandachuvas das centrais
sindicais. Nunca antes na história deste país houve chance tão boa para
mergulhar na banheira de moedas do Tio Patinhas.
Só que o negócio
era bom demais para ser administrado em paz. Logo os concessionários se
engalfinharam em disputas acionárias, que mobilizaram a Polícia Federal (PF), a
Justiça nacional, os órgãos de garantia de combate a monopólios e até
instrumentos de arbitragem internacional. No fragor da guerra das teles, os
primeiros sinais de maracutaia dividiram as grandes rotas com os aviões de
carreira. Sabia-se que naquele pirão tinha caroço. Mas quem ficou com a parte
do leão?
Impossível saber,
pois este contencioso está enterrado sob sete palmos de terra. Desde o Estado
Novo, os sindicatos operários ou patronais administram sem controle externo
caixas que têm engordado ao longo do tempo com a cobrança da Contribuição
Sindical, que arrecada um dia de trabalho de todo trabalhador formal no Brasil,
seja ou não sindicalizado. Sob a égide de Lula, as centrais sindicais foram
incluídas na divisão desse bolo gordo e açucarado. E o sistema financeiro,
acusado de ser a sanguessuga do suor do trabalhador, incorporou a esse cabedal
os fundos de pensão. Sob controle de dirigentes sindicais, estes ocultam uma
caixa-preta que ninguém tem poder nem coragem para abrir.
Só que o noticiário
sobre tais episódios foi soterrado pela avalanche de denúncias provocada pelas
revelações da Ação Penal (AP) 470, já julgada pelo Supremo Tribunal Federal
(STF) e conhecida popularmente pela denominação que lhe foi dada pelo delator,
Roberto Jefferson – o mensalão. Agora, após seu julgamento ter sido concluído e
com os réus condenados, este é visto quase como lana-caprina desde a eclosão de
outro mais espetacular: a roubalheira do propinoduto da Petrobras devassada
pela Operação Lava Jato. Mas a cada dia fica mais claro que os dois casos se
conectam e se explicam.
A importância de
elucidar um crime ao investigar outro foi comprovada quando, na Operação Lava
Jato, a PF encontrou nos papéis de Meire Poza, contadora do delator premiado
Alberto Youssef, a prova de que o operador do mensalão, Marcos Valério, deu R$
6 milhões ao empresário Ronan Maria Pinto, como tinha contado em depoimento
referente à AP 470. Segundo Valério, essa quantia evitaria chantagem de Ronan,
que ameaçava contar o que Lula e José Dirceu tinham que ver com o sequestro e a
morte de Celso Daniel, que era responsável pelo programa de governo na campanha
de 2002.
Mas nem essa
evidência da conexão Santo André-mensalão-petrolão convence o PSDB a dobrar a
oposição do relator da CPI da Petrobras, Luiz Sérgio (PT-RJ), e levar Ronan a
depor, como tem insistido a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP). É que os tucanos
articulam uma aliança com o atual dono do Diário do Grande ABC para enfrentar o
petista Carlos Alberto Grana na eleição municipal de Santo André. E este corpo
mole pode dificultar o esclarecimento da verdade toda.
A Lava Jato já
produziu fatos antes inimagináveis, como acusações contra os maiores
empreiteiros do País e até a prisão de vários deles. É o caso de Otávio
Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez, que presidia o Conselho de
Administração da Oi na guerra das teles. Isso revela mais um investigado em
mais de um escândalo. Como Pedro Corrêa e José Dirceu, acusados de receber
propina da Petrobras quando cumpriam pena pelo mensalão.
A Consuelo Dieguez,
em reportagem da revista Piauí, publicada em setembro de 2012, Haroldo Lima,
que tinha sido demitido por Dilma da presidência da Agência Nacional de
Petróleo, disse que, no Conselho de Administração da Petrobras, ele, a
presidente e o ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli só votavam como o
chefe mandava. E agora Lula é investigado por eventual lobby para a Odebrecht
no exterior em obras financiadas pelo BNDES, a ser devassado em breve numa CPI
na Câmara.
E a Lava Jato
chegou à eletricidade. Walter Cardeal, diretor da Eletrobrás que acompanha
Dilma desde o Rio Grande do Sul, foi citado na delação de Ricardo Pessoa, tido
como chefe do cartel do petrolão, acusado de ter negociado doação de R$ 6,5
milhões à campanha da reeleição dela. Othon Silva, presidente licenciado da
Eletronuclear, foi preso ontem, sob suspeita de ter recebido propina.
Teles, fundos de
pensão, Santo André, mensalão, BNDES, eletrolão e petrolão não são casos
isolados. Eles compõem um escândalo só, investigado em Portugal, Suíça e EUA: é
este Brasil de Lula e Dilma".
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