terça-feira, 5 de dezembro de 2017

O chantecler caboclo


Pouco antes de nascer o dia (talvez até na profunda madrugada), o galo se encarrega de avisar ao mundo que o sol está surgindo. Seu cérebro de galinha, no entanto, o faz cultivar a convicção de que é seu canto que mobiliza o astro rei. Quando se trata das ilusões do vaidoso galináceo, no entanto, os demais seres do mundo têm para com ele uma suave condescendência. Ora, quão tola é essa criatura, estariam a dizer para si, caso pudéssemos entendê-los.

Pois não é que o mundo da política reproduz de maneira bem aproximada a pretensão do chantecler egocentrado? As tramas fazem lembrar as fábulas de Esopo. Uma dita filósofa – professora Marilena Chauí – chegou a enunciar que o mundo emudece quando Lula fala. Claro, eram tempos em que, no gordo pacote de compras literárias governamentais, ocupavam lugar de destaque os livros da madame. Ao que parece, a finada fartura se foi para sempre e a fiel militante petista regrediu ao status de classe média.


Pelos números revelados pelas últimas pesquisas eleitorais, Lula da Silva aparece com a preferência de um terço aproximadamente dos eleitores, seguido de Jair Bolsonaro com 18% e os demais nomes com indicações bem baixas ou insignificantes. O chantecler petista é louvado pelo desempenho, aliás, digno de menção, mas não pelas razões que a maioria dos analistas elenca. O surpreendente é que cacarejando diariamente nos últimos 40 anos (quando presidente, o petista alcançava a marca de três discursos diários para rádios e TV’s de todo o país), Lula da Silva só receba a preferência de pouco mais de 30% dos eleitores que declaram votar nele nas próximas eleições.


Convenhamos. Era para ser um número bem mais expressivo para quem aparenta ter nascido sobre um palanque. Sem falar na poderosa máquina sindical e corporativa na administração pública, nos hospitais, nas escolas de todos os níveis, nas igrejas e nos denominados movimentos sociais. É uma estrutura de arromba! Com todo esse poderio, não consegue fazer frente a um deputado ainda desconhecido que faz sua pré-campanha apoiado na família e em meia dúzia de gatos pingados. Enquanto Lula voa pelos ares a bordo de luxuosos jatinhos dos empresários amigos, Bolsonaro se desloca dentro dos seus limites, como se fora titular de um circo mambembe cujo meio de transporte são carroças mal ajambradas.   


Rico, poderoso e atrevido como um garnizé, Lula pode terminar na reta final enfrentando um político audacioso e sem máculas que o desonrem. O povo será posto frente a duas opções: votar numa pessoa honesta ou votar num gatuno já condenado pela justiça brasileira. Isso sem por em discussão a malta predadora da qual é composta o lulismo. Será uma decisão radical, a que será tomada pelos 130 milhões de eleitores em outubro do próximo ano. Na mente da maioria já está fixada a imagem do significado da candidatura Bolsonaro. O deputado pode se dar ao desfrute de alargar sua base de apoio.

Nenhum comentário: