Pouco antes de nascer o dia (talvez até na profunda madrugada), o galo se encarrega de avisar ao mundo que o sol está surgindo. Seu cérebro de galinha, no entanto, o faz cultivar a convicção de que é seu canto que mobiliza o astro rei. Quando se trata das ilusões do vaidoso galináceo, no entanto, os demais seres do mundo têm para com ele uma suave condescendência. Ora, quão tola é essa criatura, estariam a dizer para si, caso pudéssemos entendê-los.
Pois não é que o mundo da
política reproduz de maneira bem aproximada a pretensão do chantecler egocentrado?
As tramas fazem lembrar as fábulas de Esopo. Uma dita filósofa – professora Marilena
Chauí – chegou a enunciar que o mundo emudece quando Lula fala. Claro, eram
tempos em que, no gordo pacote de compras literárias governamentais, ocupavam
lugar de destaque os livros da madame. Ao que parece, a finada fartura se foi
para sempre e a fiel militante petista regrediu ao status de classe média.
Pelos números revelados
pelas últimas pesquisas eleitorais, Lula da Silva aparece com a preferência de
um terço aproximadamente dos eleitores, seguido de Jair Bolsonaro com 18% e os
demais nomes com indicações bem baixas ou insignificantes. O chantecler petista
é louvado pelo desempenho, aliás, digno de menção, mas não pelas razões que a
maioria dos analistas elenca. O surpreendente é que cacarejando diariamente nos
últimos 40 anos (quando presidente, o petista alcançava a marca de três discursos
diários para rádios e TV’s de todo o país), Lula da Silva só receba a preferência de
pouco mais de 30% dos eleitores que declaram votar nele nas próximas eleições.
Convenhamos. Era para ser um
número bem mais expressivo para quem aparenta ter nascido sobre um palanque.
Sem falar na poderosa máquina sindical e corporativa na administração pública,
nos hospitais, nas escolas de todos os níveis, nas igrejas e nos denominados
movimentos sociais. É uma estrutura de arromba! Com todo esse poderio, não
consegue fazer frente a um deputado ainda desconhecido que faz sua pré-campanha
apoiado na família e em meia dúzia de gatos pingados. Enquanto Lula voa pelos
ares a bordo de luxuosos jatinhos dos empresários amigos, Bolsonaro se desloca
dentro dos seus limites, como se fora titular de um circo mambembe cujo meio de
transporte são carroças mal ajambradas.
Rico, poderoso e atrevido
como um garnizé, Lula pode terminar na reta final enfrentando um político
audacioso e sem máculas que o desonrem. O povo será posto frente a duas
opções: votar numa pessoa honesta ou votar num gatuno já condenado pela justiça
brasileira. Isso sem por em discussão a malta predadora da qual é composta o
lulismo. Será uma decisão radical, a que será tomada pelos 130 milhões de
eleitores em outubro do próximo ano. Na mente da maioria já está fixada a
imagem do significado da candidatura Bolsonaro. O deputado pode se dar ao
desfrute de alargar sua base de apoio.
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