quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Salário baixo, mas muito amor e carinho


Com a barra meio pesada para seu lado, o empreiteiro Kalil - candidato a prefeito de Belo Horizonte - resolveu pegar uma carona na insatisfação popular. Homem tinhoso, Kalil percebeu que ele e seus colegas de ofício estavam com a batata já bem assada. Os escândalos que se sucedem aos borbotões desnudam a realidade do mundo dos empreiteiros. O mais limpo tem sarna, ou lepra, para lançar mão de conceito do próprio empreiteiro falastrão. 

Desocupado, resolveu dar uma de flaneur: andar pela capital mineira para conhecer o modo de vida dos pobres. 

Surpreendeu-se ao saber que o povão vive uma vida pior que a de cachorro. Sua mente um tanto desequilibrada expeliu, então, aquilo que se tornou o centro de seu plano de governo: dar muito carinho aos cidadãos. Parece inspirado naqueles antigos bolerões, também conhecidos como músicas de corno, imortalizadas por Nelson Gonçalves. Uma piada, dificilmente involuntária, em vista do que o empreiteiro de férias já deu a conhecer em outras oportunidades. 

Para os funcionários da prefeitura acrescentou o amor no atacado ao carinho prometido no varejo. Salário que é bom, nada! Para demonstrar os afetos dos quais se diz possuído, passou a circular de camisa cor de rosa, sugestão que deve ter recebido, e acatado, pelo visto, do Mário Jacaré, epígono do notório "Movimento do Machão Mineiro". 

De todas as bizarrices de Kalil, a mais estranha é sua reconhecida ignorância a respeito das condições de vida da população, tendo sido ele dirigente de um dos mais populares clubes de futebol do país. Desfilando pelas ruas em suas motocicletas cinematográficas, nunca antes tinha visto os pobres de perto. Agora, Kalil sabe como é tal personagem, sua majestade, o pobre. 

Seus amigos e aliados do PT transferiram a ele a mesma conversa fiada que Collor inaugurou e Dilma consolidou: o pobre é nosso; o pobre precisa de carinho; o pobre necessita de devoção. O homem certo para amar o pobre é Pai Kalil da Empreita Malandra. Pai Kalil e Mãe Dilmão, esse casal teratológico saído das páginas do livro dos seres imaginários.

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