No comício promovido pela CUT em São Paulo para comemorar o 1.º de Maio,
a presidente Dilma Rousseff mostrou-se capaz de, nos estertores de seu
catastrófico mandato, transpor a barreira do ridículo para se perder nas brumas
da falta de juízo. É o caso de se pensar se já não é mais questão de mero
impeachment, mas de auxílio terapêutico. Não há outra explicação para Dilma ter
afirmado que seus opositores são os verdadeiros “responsáveis pela economia
brasileira estar passando uma grande crise”. Afirmação que soa tão mais insana
quando feita no mesmo discurso em que anunciou um “pacote de bondades” que
amplia o bilionário rombo orçamentário que legará a seu sucessor.
É triste constatar que Dilma Rousseff renunciou à possibilidade de
deixar o governo com um mínimo de dignidade, se não admitindo honestamente
erros cometidos – atitude que não combina com sua enorme arrogância – pelo
menos se poupando, e ao País, do deplorável espetáculo desse ímpeto revanchista
com que tenta transferir a outros a responsabilidade por sua clamorosa
incompetência. A escalada de absurdos a que Dilma se entregou nesses últimos
dias torna plausível até as mais disparatadas especulações que circulam em
Brasília. Fala-se, por exemplo, que, para registrar de modo dramático sua
indignação e repulsa ao “golpe” de que se considera vítima, Dilma estaria
cogitando receber a comunicação oficial do afastamento literalmente acorrentada
a sua cadeira presidencial. Só pensar em tal cena já é um disparate.
Se o desempenho de Dilma no comício da CUT já foi chocante, imagine-se o
que virá por aí. O Palácio do Planalto programou, até o fim desta semana, uma
intensa agenda de compromissos públicos que Dilma pretende usar não apenas para
atacar os “golpistas” que a vitimam, como para continuar iludindo a população
com o anúncio de projetos de “bondades” que certamente não ofereceria se ela
própria tivesse que arcar, mesmo na qualidade de presidente da República, com o
pagamento das contas. O rombo orçamentário previsto para este ano é de cerca de
R$ 100 bilhões e até dias atrás Dilma não via problema em aprofundar esse
buraco. O “pacote de bondades” anunciado pela presidente provocará, sem dúvida,
um aumento do déficit orçamentário com o qual o próximo governo terá que se
haver. É a chamada cortesia com o chapéu alheio, que depois permitirá ao PT, na
oposição, criticar severamente o “descontrole das contas públicas”.
No campo estritamente político, alguns petistas se mostram dispostos a
apoiar a ideia da realização de eleições presidenciais antecipadas que está
sendo apresentada por um grupo de senadores. Há notícias de que Dilma estaria
considerando essa possibilidade, que implicaria sua renúncia e a de Michel
Temer a seus mandatos. Mas dentro do próprio PT há forte resistência à ideia,
sob o argumento de que a renúncia de Dilma seria interpretada como uma
confissão de culpa. E ninguém acredita que Michel Temer a aprove.
A antecipação do pleito presidencial para outubro próximo, coincidindo
com as eleições municipais, objetivaria a escolha apenas de novos, presidente e
vice, para completar o mandato de Dilma, que termina em 31 de dezembro de 2018.
A novidade dependeria da aprovação de uma emenda constitucional. Mesmo que
Senado e Câmara conseguissem cumprir os prazos estabelecidos para a tramitação
da emenda e o Tribunal Superior Eleitoral lograsse preparar em tempo a eleição
para outubro, o quórum exigido para aprovação é praticamente inatingível nas
atuais circunstâncias políticas. Além disso, a proposta esbarraria na
intransponível cláusula constitucional da anualidade exigida para todas as
modificações do processo eleitoral. A proposta, portanto, se presta apenas a
tumultuar o ambiente político e retardar o urgente trabalho de reconstrução que
o País exige.
Mas não é um disparate, como alguns julgam. Afinal, seria desta maneira
que o PT reduziria os prejuízos eleitorais que o petrolão e o desastre do
governo Dilma decerto lhe causarão. E, mais importante, a campanha eleitoral
colocaria Lula, hoje um dois de paus, novamente no proscênio político. Dilma e
a tigrada do PT, enquanto agonizam politicamente, não deixarão passar nenhuma
oportunidade para “infernizar” o governo que deverá assumir nos próximos dias.
O País? Ora, o País que se dane.
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