Pensei: o cara pirou. Só pode ser. Tudo bem que tenha se sentido
ofendido pela reportagem do The New York Times sobre seu gosto por bebidas
alcoólicas. Pega mal para um governante ser citado assim.
Mas o presidente russo Boris Ieltsin também o fora. E na rede de
televisão CNN protagonizara cena memorável dançando em um palco no centro de
Moscou depois de ter bebido todas as vodcas possíveis.
Daí a Lula determinar a expulsão do país do correspondente do
jornal, Larry Rother? Sinto muito, era exagero. E também um abominável ato de
arbítrio.
Foi isso o que ele ouviu dos poucos assessores com alguma gota
de coragem para enfrentar seus costumeiros ataques de cólera - “exagero”. Em
público, ele vestia a fantasia do “Lulinha paz e amor” com a qual se elegera
pela primeira vez.
Um dos assessores, em reunião no gabinete presidencial do
Palácio do Planalto, sacara de um exemplar da Constituição e apontara o artigo
que garantia ao jornalista o direito de permanecer no Brasil.
Então Lula cometeu a célebre frase que postei no meu blog no dia
12 de maio de 2004, poucas horas depois de ela ter sido pronunciada: “Foda-se a
Constituição!”.
Naquele dia, mais de um deputado e senador discursou no
Congresso a propósito do que Lula dissera a respeito da Constituição, embora
nenhum, por pudor ou receio de ferir o decoro, tenha reproduzido a frase
ofensiva e grosseira.
Diretores de jornais e revistas me telefonaram perguntando se eu
estava seguro do que publicara. Nenhum ousou escrever sobre o episódio. Eram
outros os tempos.
Nos tempos das redes sociais, a imprensa não é mais reverente
com os poderosos até porque perdeu o monopólio da informação. Algo que não se
dê, a internet dá.
Palavras e frases consideradas chulas antigamente foram
assimiladas pela linguagem corrente. De resto, como ignorá-las quando saem da
boca de homens públicos e têm a ver com fatos públicos relevantes? Foi o que
aconteceu outra vez com Lula.
Um vídeo postado na internet deu conta do que ele disse em
conversa com a presidente Dilma poucos minutos depois do fim do seu depoimento
forçado à Lava-Jato na última sexta-feira.
Lula disse: “Eles que enfiem no cu todo o processo".
Referia-se, certamente, aos procuradores que o haviam interrogado. E ao
processo que apura a roubalheira da Petrobras e a sua eventual culpa por ela.
A saída encontrada por Lula para sobreviver foi se declarar
desde já candidato a presidente da República em 2018, correr assustado para o
colo do PT, anunciar seu retorno às ruas e reconciliar-se com o discurso
incendiário da época em que era inimigo das elites e a elas não se associara
ainda, adotando apenas o que elas têm de pior.
Dará certo? Difícil que dê. Seria preciso combinar antes com os
adversários.
Com a Lava-Jato. Com a crise econômica que se anunciou no seu
segundo governo. Com a sucessora eleita e reeleita, sem talento para
administrar, sequer, uma loja de produtos baratos, quanto mais um país.
Com o PT devastado pela corrupção e em queda acelerada no
ranking dos partidos mais admirados. E com a maioria dos brasileiros que diz
rejeitar a hipótese de votar nele, Lula, novamente.
Só há um responsável pela tragédia política e pessoal que Lula
enfrenta: ele mesmo. Lula está quase nu. E o que já se vê não é recomendável
para eleitores com 16 anos ou mais
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