É muito grave que o Banco Central tenha renunciado ao pouco que
restava de sua autonomia e de sua credibilidade, submetendo-se de vez aos
desígnios da presidente Dilma Rousseff. Mais grave ainda, porém, é a conclusão
óbvia de que Dilma, agora definitivamente a senhora absoluta da política
econômica, seja incapaz de dizer o que pretende – e não apenas em razão de sua
notória limitação para expressar suas ideias, mas sim porque a petista não sabe
o que quer.
Dessa maneira, não se pode condenar os empresários e
investidores que hesitam na hora de apostar na recuperação do Brasil, prometida
por Dilma. Afinal, é preciso ser muito cândido para se arriscar a fazer
investimentos de longo prazo num país cuja presidente perambula às tontas entre
a necessidade evidente de ajustar a economia e a destrambelhada ideologia
estatista gravada em sua alma.
O episódio envolvendo o Banco Central, que criou enorme
incerteza a respeito do controle da inflação, é revelador do que vai por este
governo, que trocou o planejamento pela esquizofrenia. Não há nenhuma maneira
de prever se Dilma Rousseff está realmente disposta, como diz, a enfrentar o
desafio de realizar um verdadeiro ajuste fiscal, de manter os índices de preços
dentro da meta estabelecida e de promover as reformas que são urgentes para
desafogar o Estado e restabelecer a confiança do setor produtivo.
A presidente não consegue convencer nem mesmo seu partido, o PT,
da necessidade de apertar o cinto, talvez porque ela mesma não esteja certa
disso. Todas as medidas de corte de gastos prometidas por Dilma foram apenas
parcialmente adotadas, e a muito custo. Diante dessa gritante falta de
convicção, não surpreende que o Congresso lhe seja terreno pedregoso, e que lá
ninguém tenha ânimo para defender medidas cuja eventual impopularidade a
própria presidente tem pavor de enfrentar. Assim, o único labor ao qual a tropa
de choque do Planalto tem se dedicado com afinco é o toma lá da cá com os
partidos aliados para evitar o impeachment.
Essa não é uma situação circunstancial. As agruras do País se
devem à incapacidade de Dilma de exercer o cargo que ocupa. A presidente não
conseguiu construir, ao longo de cinco anos, o proverbial patrimônio de
credibilidade ao qual os estadistas recorrem em momentos de crise. Falta-lhe o
conjunto de qualidades que assegurariam à Nação a certeza de que, por pior que
fosse a tormenta, sempre haveria uma liderança competente para conduzir o
Brasil a bom porto.
Ao contrário: o imenso edifício da crise atual, como já sabe a
maioria dos brasileiros, foi construído, tijolo por tijolo, por Dilma em
pessoa. Logo, como nada tem a oferecer para provar que é capaz de fazer o que
tem de ser feito, resta-lhe bradar que é “honesta”, como se não fosse essa uma
obrigação e como se apenas honestidade fosse bastante e suficiente neste
momento.
O Brasil está paralisado porque
ninguém sabe o que se passa na cabeça da pessoa que tem a responsabilidade de
tomar as decisões que terão impacto na vida de todos. Antes de sua reeleição,
Dilma prometia manter firmes os fundamentos da economia; durante a campanha,
atacou todos aqueles que apontavam a necessidade do ajuste fiscal ante o
crescente descalabro das contas; reeleita, a petista voltou a garantir que
controlaria a inflação e enxugaria gastos. Agora, fala em ajuste, mas à base de
mais impostos e de estímulos que já se provaram aziagos.
Esse zigue-zague de Dilma resultou numa disparada da inflação,
no descontrole dos gastos e na alta do desemprego. Sua falta de credibilidade
contaminou todo o governo – a última vítima foi o Banco Central.
A passagem de Dilma pela Presidência, de tão insensata, poderia
inspirar a lembrança de um aforismo grego recuperado pelo filósofo Isaiah
Berlin: “A raposa sabe muitas coisas, mas o ouriço sabe uma coisa muito
importante”. Dilma não é nem a raposa, que sabe muitas coisas, nem o ouriço,
que sabe uma coisa muito importante. Ela não sabe nada.
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