A crise brasileira é um fato internacional. Dentro dos nossos
limites, estamos puxando a economia mundial para baixo. Nossa queda não impacta
tanto quanto a simples desaceleração chinesa. Mas com alguma coisa
contribuímos: menos 1% no crescimento global.
Na crise da indústria do
petróleo, com os baixos preços do momento, o Brasil aparece com destaque. Cerca
de 30% dos projetos do setor cancelados no mundo foram registrados aqui, com o
encolhimento da Petrobrás. Dizem que os brasileiros eram olhados com um ar de
condolências nos corredores da reunião de Davos. Somos os perdedores da vez.
Diante desse quadro, Dilma
diz-se estarrecida com as previsões negativas do FMI. Quase todo mundo está
prevendo uma crise de longa duração e queda no PIB. Centenas de artigos,
discursos e relatórios fortalecem essa previsão. Dilma, se estivesse informada,
ficaria estarrecida por o FMI ter levado tanto tempo para chegar a essa
conclusão. Ela promete que o Brasil volta a crescer nos próximos meses. No
mesmo tom, Lula declarou aos blogueiros amestrados que não existe alma viva
mais honesta do que ele. Não é recomendável entrar nessas discussões estúpidas.
Não estou seguro nem se o Lula é realmente uma alma viva.
A troca de Levy por Barbosa
está sendo vista como uma luta entre keynesianos e neoliberais. Pelo que
aprendi de Keynes, na biografia escrita por Robert Skidelsky, é forçar um pouco
a barra acreditar que sua doutrina é aplicável da forma que querem no Brasil de
hoje. É um Keynes de ocasião, destinado principalmente a produzir algum
movimento vital na economia, num ano em que o País realiza eleições municipais.
É o voo da galinha, ainda que curtíssimo e desengonçado como o do tuiuiú.
O Brasil precisa de uma década
de investimentos vigorosos, para reparar e modernizar sua infra. Hoje,
proporcionalmente, gastamos nisso a metade do que os peruanos gastam.
O governo não tem fôlego para
realizar essa tarefa. Isso não significa que não haja dinheiro no Brasil ou no
mundo. Mas são poucos os que se arriscam a investir aqui. Não há credibilidade.
O populismo de esquerda não é uma força qualquer, ele penetra no inconsciente
de seus atores com a certeza de que estão melhorando a vida dos pobres. E
garante uma couraça contra as críticas dos que “não querem ver pobre viajando
de avião”.
Em 2016 largamos na lanterna do
crescimento global. Dilma está estarrecida com isso e a mais honesta alma do
Brasil diz “sai um lorde Keynes aí” como se comprasse cigarros num botequim de
São Bernardo do Campo.
Aos poucos, o Brasil vai se
dando conta da gravidade da epidemia causada pelo Aedes aegypti. Gente com zika foi encontrada
nos EUA depois de viajar para cá. As TVs de lá martelam advertências às
grávidas. Na Itália quatro casos de contaminação foram diagnosticados em
viajantes que passaram pelo Brasil. O ministro da Saúde oscila entre a depressão
e o entusiasmo. Ora exagera o potencial das campanhas preventivas, ora
reconhece de forma fatalista que o Brasil está perdendo feio a guerra para o
mosquito.
Com nossa estrutura urbana, é quase impossível acabar com o mosquito.
Mas há o que fazer.
Não se viu Dilma estarrecida
diante da epidemia. Nem a mais honesta alma do Brasil articulando algo nessa
direção. Solução que depende do tempo, a vacina ainda é uma palavra mágica.
No entanto, estamos nas
vésperas da Olimpíada. Os líderes que a trouxeram para o Brasil, nos tempos de
euforia, quase não tocam no assunto; não se sentam para avaliar como nos
degradamos e como isso já é percebido com clareza lá fora.
A Economist publica uma capa com
Dilma olhando para baixo e o título: A queda do
Brasil. Na economia, área em que as coisas andam mais rápidas,
não há mais dúvidas sobre o fracasso.
A segunda maior cidade do Rio,
Estado onde se darão os Jogos, simplesmente quebrou. Campos entrou em estado de
emergência econômica, agora que os royalties do petróleo parecem uma ilusão de
carnaval.
O problema dos salvadores do
povo é que não percebem outra realidade exceto a de permanência no poder.
Quanto pior a situação, mais se sentem necessários. Os irmãos Castro acham que
salvaram Cuba e levaram a um patamar superior ao da Costa Rica, por exemplo. O
chavismo levou a Venezuela a um colapso econômico, marcado pelas filas para
produtos de primeira necessidade, montanhas de bolívares para comprar um
punhado de dólares. Ainda assim, seus simpatizantes dizem, mesmo no Brasil, que
a Venezuela está muito melhor do que se estivesse em mãos de liberais.
O colapso, a ruína, a
decadência, nada disso importa aos populistas de esquerda. Apenas ressaltam
suas boas intenções e a maldade dos críticos burgueses, da grande mídia, enfim,
de qualquer desses espaços onde acham que o diabo mora. O Lula tornou-se o
símbolo desse pensamento. Na semana em que se suspeita de tudo dele, do tríplex
à compra de caças, do petrolão às emendas vendidas, chegou à conclusão de que
não existe alma viva mais honesta do que ele.
Aqueles que acreditam num
diálogo racional com o populismo de esquerda deveriam repensar seu propósito.
Negar a discussão racional pode ser um sintoma de intolerância. Existe uma
linha clara entre ser tolerante e gostar de perder tempo. O mesmo mecanismo que
leva Lula a se proclamar santo é o que move a engrenagem política ideológica do
PT. Quando a maré internacional permitiu o voo da galinha, eles se achavam
mestres do crescimento. Hoje, com a maré baixa, consideram-se os mártires da intolerância
conservadora. Simplesmente não adianta discutir. No script deles, serão sempre
os mocinhos, nem que tenham de atacar a própria Operação Lava Jato.
Considerando que Cuba é uma
ditadura e a Venezuela chega muito perto disso com sua política repressiva,
como explicar a aberração brasileira?
Certamente algum mosquito nos
mordeu para suportarmos mentiras que nos fazem parecer otários. Não foi o Aedes aegypti. A tsé-tsé, quem sabe?
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