terça-feira, 17 de novembro de 2015

Mulheres evitam criticar Pedro Paulo (Ricardo Noblat)


Espanta e envergonha que mulheres, no exercício de cargos políticos e em posições de destaque, hesitem em condenar a atitude do secretário-executivo da prefeitura do Rio de Janeiro, Pedro Paulo Carvalho, de espancar duas vezes sua ex-mulher Alexandra quando era casado com ela; de mentir ao ver as agressões serem descobertas; e de forçar Alexandra a defendê-lo em humilhante entrevista coletiva.

Fátima Pelaes, por exemplo, a presidente nacional do PMDB Mulher, saiu-se de banda ao ser abordada, ontem, por um repórter de O Globo. Ditou:
- O núcleo estadual, que conhece mais a situação, entende que ele pode ser reabilitado. Nada justifica a violência, é inaceitável a agressão em qualquer tempo, mas há uma segunda chance.
Presidente da seção carioca do PMDB mulher, Kátia Lôbo recusou-se a conversar.
- Não tenho nada para falar sobre isso — disse e desligou o telefone.
Como não tem? Quem teria?
A presidente da Comissão Mista de Orçamento do Congresso, a senadora Rose de Freitas (ES), reagiu irritada com a demora do prefeito Eduardo Paes em desistir da candidatura de Pedro Paulo à sua sucessão:
- Recuso-me a tratar isso como uma questão partidária. É uma questão de Direitos Humanos, inaceitável. O Eduardo Paes não tem que esperar a sociedade reagir, é um contencioso que fica para sempre. O próprio Pedro Paulo deveria se considerar sem condições de ser candidato. Quebra o pau na mulher e não quer que a gente fale?
Recém-filiada ao PMDB de Paes e de Pedro Paulo, a antiga líder feminista e atual senadora Marta Suplicy (SP), candidata a prefeita de São Paulo, registrou em e-mail:
- Fui e sou sempre solidária à luta e ao direito das mulheres, principalmente contra essa chaga que é a violência.
Para a deputada Laura Carneiro (RJ) o assunto está superado:
- O trabalho dele [Pedro Paulo] como Executivo, 20 anos de atuação, não pode estar atrelado a uma questão pessoal. Na política, há coisas boas e coisas ruins, ou se está no barco, ou não. E eu estou.
Ninguém parece estar mais no barco do que a vereadora Verônica Costa:
- É difícil acreditar (nas agressões). É melhor esperar a Justiça se posicionar. Não é o perfil do Pedro, não o vejo assim.
Como não acreditar se o próprio Pedro Paulo confessou as agressões e pediu desculpas por elas?
Pragmática, a vereadora Leila do Flamengo quase não falou:
- Por lealdade, preferia não me pronunciar. Preocupo-me em não machucar quem me deu apoio.

PS:O ilustre jornalista Ricardo Noblat só se esqueceu de citar o resto da reportagem do jornal O Globo. Nela consta que “abordada em evento em Brasília, a titular da pasta que abarcou a antiga Secretaria de Políticas para Mulheres, Nilma Lino, recusou-se a tratar do assunto”. 
Faz sentido. Como a ministra também responde pelos assuntos afrodescendentes, e a espancada é uma gata loura, melhor não falar nada. Mulher branca precisa provar do próprio veneno. Pelo papel humilhante que aceitou desempenhar, loura que é, deve ser meio burrinha mesmo. Talvez até goste de apanhar. Nelson Rodrigues garantia que sim.  

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