Não há bem que sempre
dure, nem mal que nunca se acabe. Os papudinhos estão felizes agora. Papudinhos
são os hóspedes da tristemente famosa penitenciária da Papuda, em Brasília. Seu
núcleo é composto pela cúpula dirigente do Partido dos Trabalhadores, aqueles
mesmos que adoravam proclamar em alto e bom som que “o PT não róba nem deixa robá”
(sic). Não caíram de paraquedas lá dentro das grades, é bom lembrar, mas em
virtude do esforço morigerador aplicado pelo STF, sob a batuta do ministro
Joaquim Barbosa, a impenitentes corruptos desavergonhados. Enfim, para surpresa
de muitos, os agentes mais notórios do mensalão (Zé Dirceu, Delúbio e Genoíno)
foram capturados e trancafiados. Ficou de fora aquele que era o verdadeiro
chefe da quadrilha, safo o suficiente para jogar suas culpas sobre os ombros
alheios.
Reconheça-se, no entanto, que o chefão tem um peculiar talento: quem
tem a última palavra, se não fosse o suficientemente velhaco e esperto –
deixando-se apanhar – logo, logo perderia o comando da vasta e gulosa grei que
vive de parasitar o Estado. Assim, no arremedo de Nuremberg onde se deu a condenação
da horda de patifes, ficou faltando um, o maior dentre todos, novamente a
circular por aí, todo pimpão, em sua vilegiatura incansável sobre os palanques,
a arengar perversamente sandices inacreditáveis. Nas cervejarias de Munique,
Hitler não faria melhor.
A vida, entretanto,
seguiu seu curso. O quase ex-ministro Joaquim Barbosa – juiz que honrou e
dignificou a magistratura de todos os tempos, como a confirmar que “ainda há
juízes em Berlim” – deixou a relatoria do processo do mensalão em decorrência
de sua precoce aposentadoria no STF. Seus sucessores (no comando do Supremo e
do referido processo), tecendo horas de seda e ouro, aguardam, pacientemente, o
momento de desfazer as principais decisões tomadas por aquela corte
constitucional, que cometeu a imperdoável condenação daqueles quadrilheiros tão
famosos, algo insólito nas vetustas práticas judiciárias brasileiras,
vocacionadas desde sempre para o beija mão dos que têm o poder, notadamente o
de acrescentar uns caraminguás ao seu rico capilé de fim do mês. Dois ou três paus a
mais, não importa quanto, já dão para o gasto; de grão em grão a galinha enche
o papo. A conta fica mesmo é para a rica viúva que nunca faltou aos seus.
Liberados da monotonia melancólica do dia a dia
detrás das grades, os papudinhos poderão retornar às articulações habituais no
submundo da política. Entre outros desafios, há que azeitar os relacionamentos,
visando os bons negócios, com varões de Plutarco como Sarney, Maluf, Jucá e
outros notáveis companheiros de biografias cujas raízes remontam aos distantes
tempos do regime militar. Tudo muito natural, pois, afinal, os donos do poder
de hoje e de ontem falam a mesma língua. Eles se entendem através dos mais
singelos sinais, que passam despercebidos ao comum dos mortais (a cristianização do petista Padilha, em São Paulo, para apoiar a candidatura do peemedebista Skaf, parece já ser fruto da repaginação do condomínio; se traem os próprios companheiros do PT, imagine-se o que não são capazes de fazer com os outros que não rezam na mesma cartilha). E a situação
eleitoral de dona Dilma está a exigir a intervenção de profissionais, como aqueles
da turma de Zé Dirceu.
O retorno dos papudinhos ao centro do palco, revigorados
como que saídos de um SPA, prenuncia dias gloriosos para a República. Palmas,
então, para os magistrados que tão bem compreenderam a relevância política de
se abrir a gaiola onde jaziam pássaros de tal nobreza. O povo brasileiro chora.
Os papudinhos, ao contrário, estão felizes como pintos no lixo.
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