quinta-feira, 19 de junho de 2014

CORAÇÕES E MENTES

Os doutrinadores do lulo-petismo construíram um estratégia política que lhes garantiu a vitória nas eleições presidenciais por três vezes sucessivas. Aplicando conceitos extraídos do leninismo renovado (basicamente nas doutrinas de Gramsci), erigiram um conjunto de procedimentos, seguidos com a disciplina stalinista, que lhes desse a hegemonia em todos os campos da vida social, cultural, econômica e política. 

O projeto é simples na sua concepção, porém de complexa execução quando posto em prática. Ganhar ou perder eleições nunca foi o objetivo maior a ser alcançado. Tanto isso é verdade que ao longo dos últimos trinta anos o PT marchou sozinho – ou com alguns fiéis partidos satélites – em disputas de toda ordem. Buscaram, antes, consolidar um nicho que ancorasse seus movimentos no futuro, que ganhar mandatos a qualquer preço em eventuais disputas. Consolidado, passou a admitir então qualquer tipo de composição com outras forças sociais e políticas, desde que eles, petistas, detivessem o controle e o comando último.

Para que este projeto de larga duração obtivesse êxito seria necessária, todavia, a conquista dos corações e das mentes, não só das massas populares quanto, também, de artistas, professores, intelectuais e outras lideranças políticas, empresariais, eclesiásticas e militares. Mais que as mentes, aliás, o fundamental seria conquistar os corações, em toda sua extensa significação e valor simbólico. Laços baseados no afeto são mais duradouros que aqueles forjados pela fria inteligência. David Hume, o notável racionalista inglês, já reconhecia a razão como escrava das paixões. Nenhum argumento, por exemplo, nem o mais consistente, levaria um torcedor apaixonado a renegar seu time, quando derrotado, pelas cores de outro, mesmo que este seja persistentemente vitorioso.

O desespero da cúpula dirigente do petismo com as manifestações críticas nos estádios de futebol e nas ruas tem, pois, razão de ser. O povo brasileiro denota claramente que está com preguiça de dona Dilma e sua corte de patifes – Sarney, Collor, Calheiros, Zé Dirceu, Genoíno, Delúbio etc. Do mais graduado ao mais reles, a relação é enciclopédica, quase infinita. Quem quer que tenha sua própria lista de políticos corruptos poderá constatar: todos com Dilma, sem tirar nem por, em qualquer estado da federação. 

Em sua volúpia hegemônica os petistas açambarcaram, sem pudor, de caquéticos e anacrônicos coronéis nordestinos, a modernosos tecnocratas gatunos, como os que abundam na Petrobrás e outras empresas públicas. Até Maluf, ícone inconteste e notório da velhacaria e cinismo nacional, antigamente tratado pelo PT a tapas, agora andam aos beijos, sôfregos, nas enxovias, próximos dos cofres. Enlouquecidos pela soberba, os petistas julgaram que o afeto popular lhes perdoaria qualquer crime. Mas o filtro de tolerância que beneficiou o partido durante tantos anos se esgarçou. Perderam.

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