quinta-feira, 8 de setembro de 2016

A antipolítica de Kalil


A disputa neste ano pelo cargo de prefeito de Belo Horizonte apresenta aos eleitores uma ampla gama de candidatos. Há para todos os gostos e preferências políticas e ideológicas. Entre eles o que mais se vem destacando é o candidato Kalil, empreiteiro e ex-presidente do clube Atlético Mineiro, o famoso Galo vingador. De fala direta e desbocada faz uso intenso do bordão: "chega de políticos; agora é Kalil". Surfa, assim, no alargado sentimento popular contra a classe política, apresentando-se como o estranho no ninho capaz de fazer e acontecer na prefeitura da capital das alterosas. Soa, também, muito parecido com o discurso de Fernando Pimentel - "o bom de serviço" - quando este disputou, e venceu, em 2004, a eleição para prefeito de Belo Horizonte. Kalil, de fato, tem inumeráveis modelos para imitar.  

É uma estratégia que já deu resultados, uns bons, outros ruins, em outros lugares e eleições (bons para os aventureiros, maus para a sociedade). O nome mais recente que vem à memória, destes profanadores da democracia, é o de Dilma Rousseff, recentemente chutada da presidência da república. A madame sempre se apresentou como aquela que detestava política e não se envolvia nos meandros das negociações na vida parlamentar. Uma gerentona, enfim, que rosnando suas ordens botava ordem no país. Com ela não tinha ti-ti-ti nem conversa fiada. Dona Dilma se queria a encarnação da administradora devotada a zelar por seus pimpolhos, qual uma galinha choca e mal humorada cuida de seus pintainhos. 

Kalil poderia, sem violentar a realidade, se apresentar aos eleitores de BH como o herdeiro espiritual de Dilma Rousseff. Ambos fazem, e fizeram, política com um discurso da antipolítica. Até nos maus modos, na truculência e na língua suja ambos se assemelham. 

Outro companheiro de Kalil que a ele se assemelha, em sua abominável forma de ser, é o ex-presidente Collor de Mello. Histriônicos e fanfarrões, os dois são movidos a golpes da mais desabrida marquetagem. Os dois modelos ideológicos de Kalil (aliás, cassados pelo parlamento em, 1992 e 2016), deram no que deram, conforme se pode aferir das suas trajetórias tão nefastas para a população que os elegeu em algum momento da história.

Na crise de representação vivida pelo Brasil, aventureiros costumam aparecer. É algo esperado e, até, normal. Em bem da verdade, não só aqui mas, também, em todos os lugares onde as pessoas ficaram reduzidas à condição de massas desamparadas. Donald Trump, nos Estados Unidos, é o exemplo mais eloquente dos últimos tempos. Em 1933, na Alemanha, as massas escolheram Hitler, pelo voto, levando o mundo ao terror e à barbárie nazista. Kalil é um dos herdeiros dessa perversa tradição a que estão sujeitas democracias em crise. 

Os demais candidatos a prefeito parecem não ter a coragem de espicaçar Kalil, denunciando sua vocação autoritária. Talvez pelo desejo de fugir à politização da campanha. Aceitam, dessa maneira, que um aventureiro qualquer paute a disputa eleitoral com um discurso centrado na antipolítica, paradoxalmente o mais político dos discursos. 

Quando a máscara de Kalil for retirada, se é que o será, surgirão as imagens ocultas de seus mentores: Dilma, Collor e outros, tão ou mais abomináveis que ele. Na singular disputa de BH, o candidato secreto, in pectore, do ainda governador Pimentel, e do petismo mais nefasto, chama-se Elias Kalil. 

O ponto fraco da tramoia é a rejeição ao PT pela classe média da capital mineira. Dilma ganhou em Minas, em 2014, mas não ganhou em Belo Horizonte. As multidões que foram às ruas pedir o impeachment presidencial dificilmente engolirão o passa moleque que estão a armar com a candidatura Kalil.     

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