Machado de Assis,
como sabe o culto leitor, era um filósofo bissexto. Num de seus mais famosos
“aforismos”, do conto “Decadência de dois homens grandes”, ele dizia que“homem
gordo não faz revolução. O abdome é naturalmente amigo da ordem; o estômago
pode destruir um império; mas há de ser antes de jantar”.
De minha parte eu
lhes asseguro que o barnabé também não faz revolução. Mas faz reunião. A
reunião é o máximo que o barnabé faz de revolucionário no ambiente de trabalho!
A reunião é o momento em que algumas ideias surgem, espontâneas e felizes, até
que um outro barnabé o relembre que aquela ideia vai contra alguma norma em
vigor.
Há barnabés que
adoram uma reunião. Longa. Sem pauta. Exaustíssimas. Já falei que um tal de C.
(Cyril) Northcote Parkinson (1909-1993), em um artigo que ficou famoso,
publicado na excelente revista The Economist há muitos anos,
formulou umas leis da administração pública. Tal como a lei da gravidade, as
leis de Parkinson ainda não foram revogadas pelo nosso Congresso. Ainda.
Uma delas é a “lei da
trivialidade”, assim definida: “O tempo dedicado à discussão de cada ponto de
uma pauta de reunião é inversamente proporcional ao valor dele”.
Parkinson deu o
exemplo de reunião de barnabés cuja pauta era a seguinte: um contrato de US$ 10
milhões para construir um reator nuclear, uma proposta de US$ 2.350 para
construir um bicicletário para os funcionários e uma proposta de US$ 57 anuais
para passar a oferecer café nas reuniões do comitê de bem estar dos
funcionários.
Qual foi o tempo
dedicado a cada assunto? Dois minutos e meio dedicados ao reator (cuja proposta
envolvia demolições, construções especiais, plantas técnicas e conceitos
científicos), 45 minutos dedicados ao bicicletário e 1h15min dedicados à
proposta de passar a oferecer café ao comitê de bem estar (esse tempo era de
uma reunião de barnabés ingleses). Em Brasília seriam 20 minutos para o reator
- pois é o início da reunião e todos falam sobre o resultado da rodada de
futebol, 1h30 para o bicicletário e 3 horas para o café.
As razões explicam a
“lei da trivialidade”: o reator é complexo e ninguém entende. Presume-se que
“especialistas” já afiançaram a proposta. Ninguém quer expor sua ignorância
acerca do tema. Um bicicletário todos compreendem e se sentem aptos a dar sua
contribuição pessoal, inclusive para "compensar" a manifestação que
faltou na discussão sobre o reator. Mas o cafezinho... Ah, nesse tema o barnabé
se agiganta! Todos têm algo a comentar sobre a marca do café, a respeito das
garrafas térmicas e não faltará alguém a afirmar que esse gasto é incompatível
com a austeridade da organização. Como o tema é controverso, naturalmente não
será esgotado e servirá de pauta para a próxima reunião.
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