Em depoimento à Polícia Federal (PF) no dia 16 passado, no
âmbito da Operação Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva parecia
falar de um outro governo, e não daquele cuja chefia ele exerceu ao longo de
oito anos. Todas as suas respostas às autoridades, relativas a seu conhecimento
do escândalo do petrolão, invariavelmente indicavam ignorância ou envolvimento
apenas incidental. A responsabilidade, segundo ele, sempre foi dos outros – a
começar por seu ministro José Dirceu.
Como Lula prestou depoimento na
condição de “informante”, conforme consta no despacho do ministro do Supremo
Tribunal Federal Teori Zavascki, esperava-se que ele tivesse ao menos alguma
contribuição a dar para o esclarecimento dos fatos. Em sua oitiva, no entanto,
Lula, a exemplo do que já fizera no caso do mensalão, preferiu fazer os
brasileiros de tolos, ao dizer que nunca soube de nada a respeito de desvios na
Petrobrás quando era presidente. “Esses fatos não eram também do conhecimento
dos órgãos de fiscalização e controle, bem como da própria imprensa”,
justificou-se Lula. Não consta que tenha corado. Com isso, Lula pretende
convencer o País de que ele, como presidente da República, estava sendo
enganado tanto quanto os cidadãos comuns, embora um dos principais beneficiados
pelo assalto à Petrobrás tenha sido seu partido, o PT.
Mas a exibição pública da
essência de seu caráter e o insulto à inteligência alheia não pararam por aí.
Lula explicou à PF que “cabia à Casa Civil receber as indicações partidárias”
para preencher as diretorias da Petrobrás, que estão no centro do escândalo. O
chefão petista lembrou que o ministro da Casa Civil na época era José Dirceu, a
quem coube “escolher a pessoa que seria nomeada”.
Lula disse que não participava,
em nenhum momento, desse processo de nomeação – ele apenas “recebia os nomes
dos diretores a partir de acordos políticos firmados”. Tais acordos eram
feitos, declarou ele, “pelo ministro da área, pelo coordenador político do
governo e pelo partido interessado na nomeação”. Para Lula, não havia nada de
errado nisso, pois “em uma política de coalizões presume-se que haja
distribuição de Ministérios e cargos importantes do governo para os partidos
políticos que compõem a base de apoio”.
Somente quando tudo era
resolvido entre todas as partes, disse o ex-presidente, é que o nome do
escolhido lhe era submetido – e Lula então resolvia se “concordava ou não com o
nome apresentado” conforme os “critérios técnicos que credenciavam o indicado”.
Ou seja, o ex-presidente quer mesmo fazer todo mundo acreditar que a Petrobrás
foi assaltada por diretores nomeados exclusivamente por suas qualidades
técnicas.
Além disso, a estratégia do
“informante” petista é, como sempre foi, desmoralizar as investigações. Ele
sugeriu que os ex-diretores da Petrobrás que delataram o esquema não contaram a
verdade, e sim somente aquilo que os investigadores queriam ouvir, em troca dos
“benefícios que a colaboração premiada dá ao delator”. Tudo isso faria parte de
um maligno “processo de criminalização do PT”, acusou Lula.
Mas o ex-presidente, mesmo
sendo mestre na arte de dissimular, teve de admitir à polícia que de fato é
amigo do pecuarista José Carlos Bumlai – aquele que está preso e confessou ter
participado de um esquema envolvendo um contrato da Petrobrás para abastecer os
cofres do PT com R$ 12 milhões. Lula garantiu, porém, que “jamais tratou com
Bumlai sobre dinheiro ou valores” – e isso, disse o petista, era “algo
merecedor de respeito”.
O depoimento de Lula é repleto
de embustes dessa natureza. Em seus melhores momentos, o ex-presidente declarou
que “nunca tratou com qualquer liderança de qualquer partido sobre a indicação
de algum nome para cargo na administração pública” e que o apoio dos partidos
da coalizão governista era “baseado na afinidade dos partidos com o programa de
governo”. Depois disso, a Polícia Federal deve ter se convencido de que é
impossível extrair de Lula alguma informação útil ou relevante, pois o chefão
petista é simplesmente incapaz de dizer a verdade.
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