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Papa Francisco e Evo Morales |
O papa Francisco fez um discurso claramente
anticapitalista na Bolívia. Defendeu mudanças estruturais contra a “ditadura
sutil” das forças do mercado. “Reconhecemos que este sistema impôs a lógica dos
lucros a qualquer custo, sem pensar na exclusão social ou na destruição da
natureza?”, disse ele. Há na fala do papa pelo menos três mitos
frequentemente repetidos sobre o capitalismo. Estes aqui:
1) “O capitalismo destruiu a
natureza”
A princípio parece difícil de discordar do
papa. Da Revolução Industrial do século 19 até a China dos dias de hoje, o
avanço das fábricas cria nuvens negras nas cidades. O que pouco se diz é que só
depois de um certo nível de prosperidade (criada pelo capitalismo) surge a
preocupação dos cidadãos com o meio ambiente.
Isso fica claro com o seguinte
dilema. Imagine o leitor que está à beira de morrer de fome e consegue caçar um
pato. Mas tem um problema: trata-se de um animal em extinção, talvez o último
sobrevivente daquela espécie rara de pato. Quem preza pela própria vida até lamentaria
o fim da espécie, mas comeria o infortunado pato sem pensar demais. Já se o
leitor está de barriga cheia, fica mais fácil poupar o animal. Do mesmo modo,
só países enriquecidos pelo capitalismo podem se dar ao luxo de se
importar com a natureza.
Os economistas chamam esse fenômeno de
“curva ambiental de Kuznets”. Quando um país atinge a marca de 4 mil dólares de
renda per capita, a ecologia entra na agenda pública. Florestas, animais, ar e
rios limpos ganham relevância. Mais uma vez é o exemplo da China, que agora,
mais rica, luta para despoluir as cidades. Países comunistas (de verdade, não
como a China hoje) nunca chegaram a esse nível de renda – não à toa, avançaram
sobre a natureza com muito mais força que os capitalistas.
2) “O
capitalismo nos tornou egoístas”
Bem, seria preciso encontrar um modo de
medir o egoísmo em diferentes épocas. Parece impossível – ou seja, a opinião do
papa é frágil. Também sem provas ou medições, poderíamos supor o contrário.
Assim como a prosperidade possibilitou a preocupação com a natureza, facilitou
a caridade e a preocupação com o próximo. Aqui também vale um exemplo. Se o
leitor tem três sacos de batata em casa, e vai precisar de todos os três nos
próximos meses, fica difícil doar um deles. Mas se o estoque conta com vinte
sacos de batata, destinar alguns aos pobres se torna barato. O capitalismo de
massa, ao possibilitar a abundância, barateou a caridade – e deu força a outras
lógicas, além da “lógica do lucro” do discurso do papa. Estão aí os grandes
bilionários do mundo, como Bill Gates, que doa mais da metade da sua fortuna,
para provar que é mais fácil ser caridoso quando rico. Como diz Deirdre
McCloskey, da Universidade de Chicago, “o capitalismo não corrompeu a natureza
humana – pelo contrário, ele a melhorou”.
3) “O
capitalismo exclui os mais pobres”
(Leandro Narloch)
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