segunda-feira, 13 de abril de 2015

O dia em que Mark Zuckerberg compartilhou o dilmês (Celso Arnaldo Araújo)


"Com um novo regime vigorando no Brasil, o vice-parlamentarismo, Dilma Rousseff pode ficar mais à vontade num papel que cai muito bem em alguém com sua cultura universal. A VII Cúpula das Américas foi sua estreia oficial como chanceler brasileira — já credenciada por notáveis desempenhos em supereventos internacionais nos quais atuara, nessa função, mais informalmente. Do meio ambiente como ameaça ao desenvolvimento sustentável (Conferência do Clima, em Copenhague, 2010), à pasta de dente que volta para dentro do dentifrício (reunião do G-20, em São Petersburgo, 2013), Dilma revolucionou consagrados conceitos geopolíticos – como a milenar dualidade entre conteúdo e continente.

No Panamá, a nova chanceler Dilma Rousseff teve uma agenda premium. Além da cúpula em si, ganhou encontros privativos com dois dos 10 homens mais influentes do mundo. O primeiro foi Mark Zuckerberg, o criador do Facebook, que juntou seu primeiro bilhão de dólares com 21 anos de idade. Mas nem os gênios resistem à rede não-social de Dilma. Como se vê neste vídeo, o ex-menino prodígio de Harvard parece ir adquirindo uma expressão que vai do fascínio ao aparvalhamento, à medida que o igualmente desnorteado intérprete tenta traduzir-lhe aquela linguagem que até criptoanalistas da CIA julgariam impenetrável.

O fato é que, diante do dilmês, Zuckerberg se depara com outro fenômeno em escala real e virtual — o inventor do FB vai se dando conta da existência de seu oposto perfeito: a menor rede social do mundo, o Dilmesbook, com uma única usuária.

O hardware também é único. As palavras saem com enorme e inútil esforço, como se fossem trazidas – para que, não se sabe – da mais primitiva região neuronal de um ser vivo. Mas sempre embaladas por uma falsa expressão – na verdade, uma impressão – de quem domina um assunto que lhe é totalmente desconhecido.

“Nós estamos aqui para anunciar parceria entre o Facebook e o governo brasileiro no sentido de assegurar que as tecnologias que garantem acesso à internet, aos serviços de internet, à educação, à saúde, enfim, a todos os produtos que hoje a internet pode tornar disponível (sic) na rede, possam ser acessadas no Brasil”.

Para isso, a chanceler, se é que ainda tem poder para isso, deve chamar Ricardo Berzoini para uma conversa companheira e nomear Mark Zuckerberg como o novo ministro das Comunicações do Brasil.

Enquanto isso, Dilma quer estimular a população a brincar de médico com o Dr. Google – só pode ser isso. Insiste que serviços de saúde estarão disponíveis na internet, com a ajuda do Facebook:
“Desenhar um projeto comum, cujo objetivo principal é a inclusão digital, mas não a inclusão digital pela inclusão digital – é inclusão digital porque ela pode garantir acesso à educação, acesso à saúde, à cultura…”.

Zuckerberg, com seu extraordinário QI – não confundir com o Quem Indica do Brasil -, talvez tenha conseguido perceber que, em dilmês, uma coisa não é uma coisa pela coisa em si, mas por outra coisa, embora seja a mesma coisa. No caso, a inclusão digital que garantirá o acesso à saúde pela internet.

Tenho alguns amigos médicos no Facebook. Terei mais, depois da parceria entre Dilma e Zuckerberg?

A seguir: após novo encontro com o presidente Obama, desta vez a pasta de dentes de Dilma não volta para dentro do dentifrício, mas fica solta no ar:

* “As pessoas não pensam igual, mas os governos também não e isso fica claro aqui”.
*Sobre a ruptura democrática na Venezuela: “Não vai beneficiar ninguém no continente. Se beneficiar alguém, não é alguém que mora aqui. Então, vai beneficiar pessoas que não têm… não beneficia ninguém”
*Exclusivo: “O Brasil e os Estados Unidos têm uma parceria bilateral”.

*Dilma e sua Pátria Educadora; “Eu tenho, assim, uma imensa capacidade de resistir a interrogatório, eu te asseguro, uma imensa… Se vocês um dia quiserem, eu até explico como é que faz”.

(Publicado no blog do Augusto Nunes)

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