terça-feira, 16 de setembro de 2014

A campanha de Marina Silva

A campanha de Marina Silva é surpreendente. Com dois minutos de propaganda a cada dois dias, dois daqueles comerciais aleatórios por dia, e nenhuma indicação que evidencie a existência de uma máquina de divulgação qualquer, a candidata mantém índices expressivos de preferência popular, conforme atestam pesquisas de opinião, mesmo aquelas realizadas por entidades com baixa credibilidade.  

Este é o caso de uma autarquia vinculada ao governo federal há décadas (desde o período Collor), que se quer a expressão da voz do povo, ou vox populi. Os resultados de pesquisa (recentemente publicados pela tal autarquia, em parceria com revista notoriamente chapa branca), estão como sempre eivados de suspeição. O Ibope deu 31% para Marina. Pois bem, 31 podem ser 29, dada a margem de erro (de mais ou menos 2%); os 27% supostamente encontrados pela Vox Populi podem ser 29%, também em vista da margem de 2%. Assim, por uma das estranhas coincidências que costumam nos atingir de vez em quando, a pesquisa Ibope converge, no limite, para validar a pesquisa Vox, que visa dar a falsa impressão de enfraquecimento de Marina. 

A estratégia de comunicação governista, na qual se insere a divulgação de pesquisas suspeitas que vêm se acumulando sob o patrocínio de alguns contratantes (CNI, por exemplo, que publicou como se fossem mais recentes, dados mais velhos que os captados por pesquisa Datafolha), é tentar desidratar as candidaturas nanicas forçando uma polarização antecipada do segundo turno. 

Não só as nanicas mas, também, a candidatura Aécio, que continua a manter seus 15% em todos os levantamentos divulgados. Nem todos os aecistas, contudo, migrariam para Marina num eventual segundo turno. Boa parte deles se absteria ou anularia seus votos. Esmagar Aécio e derrotar seu candidato ao governo de Minas Gerais será como matar dois gordos coelhos com uma só cajadada.

Na hipótese de ocorrência do segundo turno, dona Dilma não teria as facilidades alardeadas, por muito de seus aliados, nos municípios com menos de 50 mil habitantes, onde madame Dilma ainda ganha hoje com facilidade. A campanha de Marina poderia se escorar na clássica divisão de grupos políticos locais, que disputam a hegemonia ao estilo de Montechios e Capuletos, principalmente nas movimentadas eleições municipais (que já se aproximam), para forçar uma divisão mais equitativa de votos nessas áreas. Se Montechios estão com Dilma, há que se buscar o apoio dos Capuletos, ou vice versa. Acordos pré-eleição, com forças que apostaram em Aécio e outros candidatos, serão fundamentais. Havendo equilíbrio nos grotões, o eixo eleitoral se deslocaria para as médias e grandes cidades, onde o eleitorado é mais independente e passível de ser alcançado com os meios de comunicação de massa.    

Marina Silva deveria aproveitar esta reta final para incrementar sua presença no imaginário da população. Nos grandes colégios eleitorais ela já ocupa a mente da maioria. A mente, aliás, é o local onde se dá a verdadeira disputa e, não, nos muros, nos cavaletes distribuídos nas calçadas, nem no papelório colorido. Não é a quantidade de panfletos, de cartazes e de adesivos que mobiliza os eleitores. Estes materiais físicos, contudo, têm a importante função de dar volume à campanha, e atrair aqueles que só se definem nos últimos dias.  

Os petistas parecem pressentir que o segundo turno será uma incógnita para eles, com maiores chances para Marina. Talvez dessa constatação se origine a forte ofensiva (em todos os sentidos da expressão), contra a candidata oposicionista. Se o PSB e a Rede querem ganhar as eleições, eles precisam tirar o traseiro da cadeira e correr as periferias e subúrbios das grandes cidades, e suas regiões metropolitanas. É aí onde se decidirá a batalha final do segundo turno, antecipada para o primeiro. 

Uma bom discurso para vincular a corrupção dos petistas e a política social seria sinalizar com um aumento da bolsa família, e de outros benefícios, a serem financiados com o dinheiro desviado pela turma do mensalão e do petrolão. Em vez de roubar, como faz a turma lulo-petista, distribuir o economizado para os mais pobres e os que mais sofrem. Um acréscimo de 50% estaria de bom tamanho. Marina tem credibilidade para fazer tal proposta.   
  

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