domingo, 11 de dezembro de 2011

O homônimo - contado por Sebastião Nery

(Casos sobre Paulo Egydio Martins, ex-ministro e ex-governador de São Paulo)


“Para preencher cargos-chave do governo, havia norma de consultar o SNI, para saber os antecedentes da pessoa. Logo que entrei no ministério (Indústria e Comércio, governo Castelo), Golbery me explicou: – A diferença entre um informe e uma informação é a seguinte: o informe é “ouvi dizer”, é para ser verificado, é um primeiro boato. A informação é um fato que está comprovado. Quando você receber uma informação com um visto meu, é para cumprir.
Um dia recebi uma informação com o visto do Golbery, dizendo que um alto funcionário do ministério era um pederasta que mantinha relações com contínuos no gabinete dele. Ele pedia que eu o demitisse.
Comecei a levantar a vida do tal rapaz. Como não constatei nada, não assinei nenhum decreto. Golbery me cobrou. Expliquei a ele:
- Ministro, lamento muito mas não constatei aquelas informações.
- Paulo eu não disse a você que uma informação com o meu visto era para ser cumprida?
- O senhor disse, mas acontece que caberia a mim a responsabilidade de exonerá-lo. Não constatei nada. Não cumpri.
- Mas isso é muito grave. Precisa ser cumprido.
- Então ponha outro ministro no meu lugar, porque não vou cumprir.
Na saída de uma outra reunião, ele me deu um tapinha nas costas:
- Paulo, você se lembra daquele caso? Você tinha razão. Era um homônimo. Assunto encerrado”.

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