quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A menina dentro do sopro (Shala Andirá)

A menina tem os olhos cor de cinza adormecida.
A menina chove dentro do sopro na orla sanguínea.
A menina chove azul, fininha, como grafite
quando definha. A menina chove
porque o que resta: é cheiro
de pingo tocando o chão do asfalto e a mágica do
céu cuspindo raio num sopro de trovão perseguindo o vento,
bem alto.

A menina chove dentro da teia de aranha
fiando diamantes líquidos por sobre o que
permanece calado dentro das pupilas.
A menina chove por que não há o que fique
mais claro do que o que se lê, no esforço relicário
de reler um grafite cinza claro.
A menina chove dentro do sopro.
Perto da sístole que é onde o coração
se contrai virando o jogo.

A menina chove o barulhinho, para quando ele dormir
poder sonhar, quem sabe, tudo de novo.
A menina chove dentro coração.
Dentro da praça no meio do povo.

Porque há um algo qualquer que se consome lento
no silêncio da ópera. No barulhinho brando da
madeira que um dia foi fogo:

(estalando o esmalte das línguas
até que chegaram: as vírgulas).
....................................................................

(Para desatar nós e desapertar laços)

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