Antigo adágio proclamava: diga-me com quem andas que te direi se te acompanho! Nunca tal condicionante foi tão verdadeira como agora, principalmente no que se refere à campanha eleitoral em curso. Os dois principais candidatos - Dilma Rousseff e José Serra - recebem o apoio de quatro ex-presidentes vivos: José Sarney e Fernando Collor, a primeira, e Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, o segundo. Mais que qualquer outra coisa que se diga, essa configuração denota o perfil daqueles postulantes. É uma verdadeira lição por tudo que os antigos dirigentes simbolizam em suas respectivas trajetórias na vida pública.
Associações inevitáveis surgem à mente de qualquer cidadão de bem. Se não, vejamos: Sarney e Collor, juntos, não dariam melhor rosto ao atraso. Ambos são a imagem mais eloquente que se possa imaginar do Brasil que não presta. Não por acaso, os dois provêm dos Estados mais pobres do país, não só econômica, como social e politicamente. Quem tiver qualquer dúvida pode consultar os respectivos índices de desenvolvimento humano (IDH) e compará-los com o de outros Estados da federação. Sarney e Collor, verdadeiros "pai e filho" espirituais, são remanescentes de uma oligarquia truculenta, parasitária e corrupta cujo talento mais evidente - aprimorado em séculos de rapinagem - é o de saquear os cofres públicos. Teriam alcançado a perfeição genética se, por acaso, Collor tivesse se casado com uma filha de Sarney. O Eterno, certamente num rasgo de sua infinita bondade, privou-nos de sofrer os efeitos deletérios dessa eventual mistura de DNA. Deste conúbio teratológico talvez saltasse o próprio anti-Cristo previsto nas profecias.
Dilma Rousseff, no entanto, parece querer se credenciar (e com alegria), a ser a herdeira putativa desse concentrado ímpar de jequice, fanfarronice, histrionice, sem-vergonhice e cafajestice. O potencial resultado final se agrava, pois que temperado pela modelagem totalitária da madame, forjada politicamente num anacrônico stalinismo. Quem convidaria tão rançosas criaturas para um jantar em família, compartilhando o pão de uma refeição honesta? Só para relembrar, companheiro é aquele com quem compartilhamos, ou dividimos, o pão. O ousado anfitrião que os recebesse teria que se precaver obrigando os convidados a usarem algemas, ainda na porta de entrada, a fim de salvaguardar o patrimônio familiar, obviamente.
Menos má a situação de Serra com os seus apoiadores. Se Itamar é exótico e dado a faniquitos não se pode, contudo, deixar de reconhecer-lhe méritos pessoais que são raros no mundo da política. O mínimo que se pode dizer sobre ele é que tem licença de andar pelas ruas sem o risco de receber vaias e hostilidades de qualquer tipo. Fernando Henrique também não envergonharia ninguém. Seu legado maior, em que pesem várias críticas (mas nenhuma desqualificante), é ter conduzido o povo brasileiro em direção ao conhecimento da experiência rara da estabilidade da moeda, além de ter tido uma compostura que poucos tiveram no exercício do cargo de presidente.
Entre a barbárie da oligarquia nordestina - capitaneada por Sarney e Collor - e a civilização de autênticos democratas, simbolizados por Itamar e Fernando Henrique, ficará a escolha do futuro presidente do Brasil. Os mineiros, do alto de sua experiência histórica, saberão fazer as comparações devidas. O salutar exercício da memória deve, portanto, incluir os nefastos períodos de governo do maranhoso Sarney (o mistificador do plano Cruzado), e do indecoroso Collor (o ladrão da poupança popular). Minas Gerais já purgou seus erros e pecados com Newton Cardoso, assim como São Paulo o fez com Paulo Maluf. Foi uma dura aprendizagem.
(Publicado, com modificações, no jornal O Tempo em 30/05/2010)
Nenhum comentário:
Postar um comentário