terça-feira, 16 de junho de 2009

PROFESSORES

Um dos maiores legados do Iluminismo pode ser visto na obra do pensador inglês Bertrand Russel, premiado duas vezes no século passado com o Nobel, pela suas atividades no campo da matemática e na literatura propriamente dita. Agnóstico e pacifista militante, enfrentou corajosamente o obscurantismo e a crueldade de seu tempo. Faleceu em fevereiro de 1970, com 98 anos, em virtude de uma pneumonia adquirida nas frias madrugadas londrinas, durante ato de protesto contra a guerra do Vietnã. Com esta idade poderia estar, sem críticas, abrigado defronte de uma lareira acariciando netos. Tinha o magistério em alta conta. Considerava que os professores eram essenciais para a humanidade, pois seriam eles os guardiães da civilização. Os valores maiores do Espírito seriam cultivados e estimulados pela ação lúcida dos mestres. Deveriam, para isto, “estar intimamente cônscios do que é a civilização, bem como desejosos de comunicar uma atitude civilizada aos seus alunos”.

Ao contrário do propagandista, para quem alunos são soldados potenciais de um exército, o professor de verdade cultiva nos estudantes a tolerância, a busca da verdade e a admiração pelo que deve ser admirado. Não é bom, por exemplo, ensinar aos alunos a admirar patifes ocultando a sua patifaria. Governantes no Brasil de hoje, por exemplo, são incensados apesar de seus crimes e desvios de conduta. O máximo de censura que recebem em salas de aula é o silêncio cúmplice sobre seus atos. Nada diferente do comportamento de professores durante os regimes nazista ou stalinista. Retomando a inspiração kantiana, prescreve Russel que o propósito da educação é curar os alunos da infantilidade, ou melhor, de estimular-lhes a maioridade. Esta seria, fundamentalmente, a capacidade de cada um pensar com a própria cabeça. Nos tempos bárbaros em que vivemos, recuperar as lições de um homem notável como este velho britânico é uma aragem na loucura disseminada. Talvez a Razão, temperada pela fraternidade e pela liberdade, possa lapidar esta dura pedra bruta, como Lord Russel queria, apesar do esforço de muitos em desmentir esta esperança.

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