O modelo de uso do biodiesel no Brasil, a partir de janeiro do corrente, prevê sua adição ao petrodiesel na proporção de 2% daquele para 98% deste (o chamado B-2). Esta formatação foi concebida mais para atender aos interesses do agro-negócio da soja e à Petrobrás, que aos pequenos produtores familiares do Brasil profundo os quais, em conformidade com a propaganda oficial, deveriam ficar plantando mamona, cultivar sem atrativo e que só prospera em lugares de extrema pobreza. Ao agro-negócio negócio da soja, o modelo proposto pelo governo Lula é uma verdadeira sopa no mel, em vista da relativamente ampla disponibilidade do óleo vegetal (subproduto de seu verdadeiro interesse – a produção de farelo para alimentação animal), que passa, então, a ter como desovar seus estoques. À multinacional brasileira, pelas dificuldades decorrentes do modelo adotado, interessa, e muito, que se inviabilize, ou prospere, um combustível concorrente passível de ser obtido de maneira sustentável e com preço competitivo (com óbvia quebra de monopólio sobre os combustíveis líquidos). Quando, todavia, os preços do óleo de soja se elevam devido à cotação internacional, praticamente desaparece do mercado o biodiesel dele derivado. Uma simples equação econômica preside este processo: se o custo de produção de biodiesel ficar acima do preço do petrodiesel, qualquer projeto daquele combustível ecológico estará condenado ao fracasso.
Maneira sofisticada de sabotar o programa de biodiesel, portanto, é esta insistência no uso de fontes oleíferas inadequadas (como a mamona e a soja), e no sistema de distribuição obrigatório para todos os usuários de diesel. As fontes de óleo vegetal mais promissoras são aquelas originadas de culturas perenes (do tipo pinhão manso, dendê e macaúba), com grande potencial produtivo por hectare, ao contrário do obtido pela ricinocultura, tão pouco rentável que somente párias (que os há aos milhões na Índia, maior produtor mundial), se dispõem ao seu plantio. A mamona ainda tem contra si os riscos para a saúde humana, pela presença nela de poderoso alérgeno, este sim o verdadeiro perigo e, não, a ricina como pensam alguns. Muito mais sensato e viável seria a obrigatoriedade do uso de biodiesel pelos mineradores (como forma de indenização pelos danos ambientais), e pelos usineiros produtores de álcool, em suas máquinas e equipamentos agrícolas. Os mineradores e os usineiros, aliás, estão entre os maiores consumidores de diesel do país. Em Carajás, no Pará, a Vale do Rio Doce possui mais de centena daqueles gigantescos caminhões que gastam, cada um, mais de 150 litros de diesel por hora. Já do lado da indústria sucroalcooleira, cada tonelada de cana esmagada consome em torno de 2,5 litros de diesel. Para a safra 2007/2008 projeta-se o processamento de algo como 400 milhões de toneladas de cana. Só aí haveria uma previsão de demanda de 1 (hum) bilhão de litros de diesel. As unidades de produção de biodiesel deveriam ser construídas, pois, junto aos grandes consumidores. Isto daria eficiência ao reduzir seu custo de produção, com os benefícios sociais lastreados em realidades econômicas e, não, no assistencialismo barato que é a marca do atual governo. E tudo com uma enorme vantagem: o biocombustível não precisaria fazer turismo, como pretende a Petrobrás com seu modelo doidivanas, feito para não funcionar.
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