quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Cotas raciais

O debate sobre as chamadas cotas raciais, tipo específico de política social compensatória, de clara natureza neoliberal, volta à ordem do dia. Esse tipo de orientação - é bom recordar - nasceu no seio de governos "direitistas" americanos, sobressaindo-se aí o período em que os Estados Unidos foram presididos por Richard Nixon. O antigo programa televisivo chamado Vila Sésamo, por exemplo, bem como o busing (dispersão e matrícula de alunos por diferentes escolas localizadas em bairros de diversificadas bases sócioeconômicas e demográficas), configuraram uma resposta política ao retrato da educação americana delineado pelo Relatório Colleman. 

Soa algo irônico que os corifeus das cotas raciais de hoje tenham  como inspiração doutrinária um notório conservador como Nixon. Algo parecido com a feroz defesa do FGTS que dele fazem líderes ditos de "esquerda". O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, criação genial do ministro Roberto Campos, ainda no tempo em que dirigia o Brasil o marechal Castelo Branco, foi apropriado de tal maneira pela pelegada sindical que até assento na Constituição Federal de 1988 ele, o Fundo, ganhou.  

A imitação, ou o louvor de obras alheias, nada tem de mal em si mesmo. Tem, até, algo de virtuoso e de humildade política e filosófica ao reconhecer que uma coisa é boa, independentemente de sua autoria.

É possível,  no entanto, que a prática do mimetismo leve seus praticantes às tênues fronteiras que separam a flexibilidade do ridículo e da crueldade. O barroquismo  mineiro apresenta curiosos exemplos. Um deles, que causa sincera admiração é a patética imitação de paredes de azulejos em igrejas barrocas. Não os havendo, pintava-se uma tábua com reproduções daqueles, e tudo ficava como se azulejos fossem. 

Agora, o Brasil está a testemunhar as perniciosas invectivas de frades desocupados e de mulatos atrevidos no sentido de criar privilégios para os seus, reservando-lhes vagas nas instituições públicas de educação e, claro, polpudos cargos na frondosa burocracia governamental. E tudo chancelado e coordenado pelos que deveriam ser os primeiros a denunciar o renascimento espiritual do nazismo. Classificar alguém pela taxa de melanina da pele, ou pelo tipo de cabelo, ou pela espessura dos beiços, ou pelo nariz arreganhado só faz legitimar os caçadores de judeus, tal qual se deu no terrível período do nazifascismo alemão. Um nariz adunco era um passaporte garantido para um campo de concentração. Circuncidado, então, já ia direto para os fornos crematórios.

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