Talvez seja uma espécie
de amarga tradição ou, talvez somente uma infortunada coincidência ou - quem sabe?
– uma singela sinalização a respeito do futuro que nos espera. O fato é que no intervalo de pouco mais que
uma geração (1979 e 2018), professores
mineiros foram recepcionados da mesma
maneira pelas forças repressivas em Belo Horizonte: com empurrões e com jatos
d’água, em truculenta resposta às suas principais reivindicações.
Professores
da educação básica, em geral, pedem três coisas às autoridades de qualquer
nível às quais estão subordinadas: condições de trabalho, dinheiro e segurança.
Algo absolutamente razoável sob qualquer ponto de vista.
Naquele já longínquo ano
de 1979 o governador era Francelino Pereira e Paulino Cícero o Secretário
Estadual de Educação (é bom memorizar o nome dos mandões). Pedia-se aumento salarial. Como nos dias que correm, os
cofres estavam vazios, alegavam os então Secretários da Fazenda e da
Administração. A prefeitura da capital, mera extensão política do Estado, pouco
podia fazer para os seus.
Hoje é diferente. As instâncias locais e regionais possuem competência
relativa dentro do pacto federativo. Quanto ao papel desempenhado pela Polícia
e Bombeiros militares, sob o comando do governo estadual, naquela época e
agora, vale lembrar que só atuam cumprindo ordens, em estrito respeito às
normas da disciplina e da hierarquia. Quem, portanto, acionou, à distância, o
gatilho dos canhões de água gelada contra homens e mulheres indefesos não foram
os policiais; os responsáveis são os dirigentes, portadores da caneta que
assinou as ordens.
Nos velhos bons tempos
de explícita e corajosa solidariedade, professores da UFMG convocaram greve em
apoio aos docentes reprimidos e humilhados da rede estadual. Agora, não se ouviu
mais que um silêncio obsequioso ou, no máximo, algum leve rosnado pra dentro,
vindo das estruturas educacionais aparelhadas pelo petismo pois, afinal, há
importantes interesses que não podem ser comprometidos, caso a corda venha a
ser esticada ao ponto de ruptura.
As boquinhas, conforme diria Garotinho, não
podem ser ameaçadas por situações tão banais. Há quem diga que as mestras até
apreciaram o banho involuntário.
Na próxima passeata,
professoras incorporarão ao kit passeata – composto de bandeiras da CUT, do PT e
dos seus puxadinhos, apitos e megafones – um vistoso maiô listrado de preto e
branco, em homenagem simultânea ao demiurgo recolhido na cadeia de Curitiba, um
sabonete e uma toalha. Tudo acabará, então, como festa em alegre
confraternização da companheirada. É pedagógico recuperar as palavras de Lula
da Silva ditas aos professores enxovalhados, no calor dos acontecimentos, quatro décadas atrás: “A luta de vocês é de todos os
trabalhadores brasileiros”. Agora, não mandou nem um bilhetinho. Carta, então, nem pensar. Seu furor epistolar está voltado para o juiz Moro.
Ai de Bolsonaro se fosse ele, ou algum de seus
adeptos ou simpatizantes, os responsáveis pelo covarde canhonaço d’água lançado
contra as mestras. O mundo cairia abaixo: machista, sexista e outros
adjetivos que tais. Seria o mínimo a se esperar. Vejamos o que outubro próximo nos reserva.
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