sexta-feira, 13 de abril de 2018

Lula e a schadenfreude


O recolhimento de Lula da Silva à prisão parece ser o destino inevitável, e tardio, de uma biografia repleta de incidentes condenáveis. Ninguém se torna delinquente após chegar à presidência da república; ao contrário, ocupar a primeira magistratura é tão somente a oportunidade de aperfeiçoar aquilo que já vem, no essencial, constituído previamente. 

Itamar Franco, por acaso, foi um sujeito corrupto? e Juscelino? e Jango? e Getúlio? para ficar apenas em alguns nomes emblemáticos da história brasileira. Isso para não falar dos presidentes militares, sob cujos ombros pesaram estrelas, jamais a pecha de desonestos, essa virtude burguesa considerada coisa de fracos e moralistas que não sabem o que é o poder e o significado de seu exercício. 

Acusações graves à elite política, já fartamente tornadas públicas, apenas no período lulopetista, no qual se inscreve, também, como indissociável, o breve reinado do presidente Temer, que aparece como que acossado pela reima pegajosa de sua antecessora imediata, de quem foi vice-presidente por seis longos anos. 

A prolongada coabitação com gente do tipo de Lula ou Dilma foi desastrosa para os atuais dirigentes do país. Millor Fernandes disse certa vez que riqueza não pega, mas pobreza, sim. Parafraseando o grande humorista (e sagaz observador da natureza humana), a convivência com gente honesta pouco afeta o indivíduo; mas sentar-se à mesa com bandidos é um prelúdio de futura condenação, verdadeira tranca de cadeia.

Pois, então, Lula da Silva foi pilhado pelo aparelho judiciário brasileiro, inicialmente por suas traficâncias imobiliárias referentes a um triplex em movimentada praia paulista. Marcha, agora, célere, para a prestação de contas quanto a um sítio em Atibaia. Antes, outra negociata envolvendo outro apartamento vizinho àquele em que reside, e uma nova sede para um tal de Instituto Lula. Tudo já sobejamente conhecido por todo o povo brasileiro. Só gente sofrendo de dissonância cognitiva para não reconhecer a conduta delituosa de Lula e seus parceiros, homens de negócio como ele mesmo o é, e sempre foi, tudo amparado por irrefutável conjunto probatório a expor, à luz do sol, o vasto conjunto de piratas e corsários devotados ao saqueio sistemático da coisa pública.  

Configurando um bloco de poder composto por sindicalistas dos fundos de pensão, empreiteiros, latifundiários (curiosamente chamados de "pecuaristas"), renomados patrícios (para utilizar a classificação proposta por Darcy Ribeiro), coronéis nordestinos e banqueiros discretíssimos sob a liderança inconteste de Lula da Silva, a resultante é a materialização atualizada daquilo já visto na obra de Raymundo Faoro (Os donos do Poder), publicado há mais de 60 anos. Safos como sempre o foram, somente os banqueiros ainda se mantém longe do fogaréu onde ardem alguns dos trapaceiros pegados em flagrante. Interessante nessa articulação é o fato dos Bancos terem sido os primeiros beneficiários do regime lulista: quem chega mais cedo bebe a água mais limpa. Se houver dúvida quanto a isso basta conferir o teor do suprimido artigo 192 da Constituição de 1988, ocorrido em 29 de maio de 2003, através da Emenda Constitucional 40, a primeira promulgada no fatídico período lulopetista.

Lula está, portanto, no lugar para o qual se preparou com tão larga competência. Se em alguns brasileiros emerge um sentimento de solidariedade a ele pelo transe atravessado, a outros muitos aflora aquilo que os alemães chamam de "schadenfreude" (alegria pelo infortúnio alheio). Em vista dos fatos e dos personagens, é uma alegria justa que não desmerece a quem a sente. O passivo deixado por Lula e seus acumpliciados justifica tal avaliação da parte dos mais revoltados.

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