segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Darcy Ribeiro: nossa escola é uma calamidade


Está próxima a data - 17 de fevereiro - em que se relembra a morte do professor Darcy Ribeiro, o maior educador brasileiro. Com sua verve impagável, costumava elogiar as instituições educacionais brasileiras pela forma como atuavam. Era um aplauso, no entanto, que ninguém gostaria de receber. Para ele, nossa escola era, e ainda é, uma verdadeira calamidade. 

Em sintonia com Anísio Teixeira, o velho mestre dizia que a assombrosa produção de analfabetos constituía uma verdadeira façanha. Nenhum outro sistema educacional conseguiria alcançar resultados comparáveis aos obtidos no Brasil. Houvesse um propósito deliberado não se chegaria, jamais, a alcançar tal eficiência programática. Afinal, ninguém, ao que se saiba, ousou pensar um modelo de escola que se destinasse a obter resultados, em tudo e por tudo, em dissonância com o modelo vigente no resto do planeta. Só o Brasil teria chegado a tanto: uma escola que produz mais analfabetos que letrados.

Tal façanha, insista-se no conceito, não é decorrente da falta de recursos. A frondosa burocracia educacional gasta, e requer cada vez mais, recursos orçamentários ditos necessários para operar o paquidérmico sistema. Aqui se faz uma ofensa aos elefantes. Tais criaturas, apesar de monumentais como um Leviatã, vivem em produtivo movimento, em nada comparável com a rede escolar pública brasileira. Seria mais justo lembrar o deslocamento de caranguejos. Fossem os professores e seus gestores remunerados pelos resultados, teriam seus vencimentos reduzidos ao nível do salário mínimo.

A verdade nua e crua é somente uma: não há razão que justifique ampliar os gastos com uma escola assentada numa concepção que já se provou incapaz de atender seu objetivo primordial de ensinar a "ler, escrever e contar". Salgar carne podre pode se revelar mais viável e socialmente mais justo.     

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