terça-feira, 7 de junho de 2016

Ainda na caverna de Ali Babá (publicado em O Tempo, em 5 de junho de 2016)


As delações premiadas, à medida que surgem, revelam com clareza solar o ambiente pútrido onde, e como, se faz a grande política no país. Poucos se salvam, esta que é a verdade. Mesmo aqueles que se querem os mais puros não conseguem explicar a fonte espúria dos recursos dos quais se utilizam para suas campanhas. O ataque aos cofres sindicais é algo tão trivial que nem espanto mais causa aos observadores. Partidecos que rosnam na periferia do PT são velhos comensais daquela fonte, sem esquecer a merreca curta das entidades estudantis. É a velha história referida por Montaigne: primeiro, roubam-se alfinetes, depois, coisas mais substanciais. Tudo não passa de mera questão de aprendizagem. Quem duvidar, avalie a movimentação do PC do B, Piçol, PCO, PISTU, PDT e outras siglas dessa indigesta sopa de letrinhas.


Velhos amigos, ou seria melhor dizer velhos cúmplices, postos sob o risco de cair nas mãos do Moro, entregam até a própria mãe; fazem tudo para ficar livres das pesadas condenações impostas pelo magistrado curitibano aos que frequentam sua Vara, esta sim, um modelo de gente que trabalha sério, sem o estrelismo delirante dos mandarins do STF (atenção em Marco Aurélio). Os criminosos, então, desenvolvem qualquer estratégia disponível. O que importa é ficar sob o abrigo dos tribunais superiores, notórios pelo passo de cágado que imprimem aos milhares de processos que apodrecem nas gavetas sob suas responsabilidades exceto, claro, o malvado Eduardo Cunha.  Suas excelências preferem, de fato, ao mister de prover a devida justiça, os holofotes da disputa política escandalosa. Vale observar que a rápida provisão judicial é preceito inscrito dentre os direitos do cidadão desde a Magna Carta inglesa, nos primórdios do século XIII, oitocentos anos, isso mesmo, oitocentos anos atrás.

As delações premiadas mais recentes devassam o caráter dos membros das afoitas quadrilhas estruturadas pelo regime lulopetista. Amigos de fé e camaradas, daqueles que se guardam no lado esquerdo do peito, sentindo o cheiro de queimado, tornam públicas as mais incríveis façanhas de seus chegados e colegas. O incrível é que se comportam com a mesma naturalidade com a qual levavam à frente suas estripulias coletivas. 

Lamentavelmente, não possuímos no Brasil instituições sábias como as existentes no Japão. Gatunos, que os há, lá e cá, reagem de maneira diferente quando pegados em flagrante. Aqui, alegam que tudo não passa de sórdida vingança de parceiros, chateados pela divergência na partilha dos cabedais furtados. Lá, pegam uma faca afiada e praticam o haraquiri, animados por um apurado senso de honra, conceito que nem de longe tangencia o ethos político nacional.


Um dos fatos mais incríveis em toda esta confusão é a cara lavada com a qual os delatores e os delatados se mostram em público. Sorriem placidamente, alguns até dão gostosas gargalhadas quando indagados pela imprensa a respeito dos fatos, hienas saboreando sua carniça. E nós, os otários, assistindo de longe a guerra fratricida dentro da caverna de Ali Babá. Assistindo e pagando os pesados impostos que sustentam os vagabundos, que ainda têm a ousadia de nos chamar de contribuintes, rindo cinicamente de nossa cara aparvalhada.

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