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Os herdeiros |
O governo Dilma Rousseff fica cada vez mais parecido com o fim dos
governos Figueiredo e Sarney. A diferença crucial é que o atual mandato da
presidente está no começo. João e José saíram aos farrapos; Dilma, aos
frangalhos, talvez não consiga prosseguir.
Em qualquer situação, completando o mandato ou não, deixará ao sucessor
uma herança maldita. Não o legado imputado ao governo Fernando Henrique Cardoso
pelo populismo oportunista de Luiz Inácio da Silva, mas um espólio objetiva e
concretamente malévolo que acaba de se materializar na volta do Brasil ao clube
dos países desprovidos de credibilidade internacional, arrastando junto a
Petrobrás, para citar apenas a maior das várias empresas agora consideradas
investimento de risco.
Por ocupar a Presidência, Dilma personifica o desastre, mas
evidentemente não é a única responsável por ele. Atribuir responsabilidade só a
ela significa ignorar todo o conjunto de uma obra coletiva construída com a
finalidade de submeter o Brasil à dominação de um partido.
Projeto que, por força da boa saúde das instituições e do despertar
(tardio) da sociedade, não deu certo, embora tenha provocado desacertos
profundos e nos levado a retroceder 20 anos no processo de recuperação da
credibilidade do País.
Os governos do PT puseram esse trabalho a perder. Por orientação do
chefe, Luiz Inácio da Silva, uma perfeita encarnação do herói sem caráter
descrito por Mário de Andrade. Quando assumiu a Presidência, Lula adotou a
política econômica do antecessor. Foi, por isso, muito elogiado, saudado pela
escolha do bom caminho.
Nessa visão otimista faltou, contudo, analisar o dado essencial da
motivação: nada foi feito por convicção, mas pela percepção de que ou
incorporava as posições do adversário ou não governaria. De onde não hesitou em
incorporá-las na economia e explorá-las na política ao expropriar o patrimônio
dos governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, atribuindo a si a
autoria da estabilização e ao antecessor a maldição de uma herança, na
realidade bendita.
Lula e o PT herdaram uma casa senão totalmente em ordem, muito bem
encaminhada com os pressupostos da reorganização implantados e muitos
obstáculos devidamente removidos ao custo de intensas negociações externas e
internas. Aos herdeiros caberia completar o trabalho, dando prosseguimento às
reformas de estrutura e usando os princípios defendidos por eles desde sempre
para, com a força do apoio popular e a presença de um líder, formar maioria no
Congresso mediante parâmetros programáticos.
Como
nem a convicção na economia nem o princípio da ética na política eram genuínos,
evidente que mais dia menos dia a casa cairia. Os escombros soterraram o PT,
mas o conceito do vale-tudo, traduzido na expressão da presidente Dilma de que
é legítimo fazer “o diabo” para ganhar eleições, levou o País inteiro ao
inferno.
Parafraseando a cantiga infantil, a canoa virou e foi por causa dos
governos que não souberam remar. Agora, nosso descendente de Macunaíma joga a
sucessora ao mar jactando-se de ter solucionado uma crise econômica “cuidando
dos pobres”, em mais uma demonstração do cinismo que presidiu o retrocesso
ético que assola o País.
Dilma fracassou? Já havia sido um fiasco gerencial antes, nos anos 90,
quando levou à falência duas lojas de produtos R$ 1,99 em Porto Alegre. Foi
Lula quem garantiu que a dona dos estabelecimentos poderia governar o
Brasil.
Foi ele também o avalista das alianças políticas financiadas com
dinheiro público. Por essas e possíveis outras que a Polícia Federal pede agora
que dê explicações à Justiça no âmbito da Operação Lava Jato.
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