segunda-feira, 7 de maio de 2012

Doutor Honoris Causa

A capacidade de bajulação dos intelectuais chapa branca é surpreendente, mesmo para aqueles mais céticos com a natureza humana. Ponderando-se, é claro, a qualidade do produto oriundo do barro ruim que foi utilizado pelo Criador em Sua obra magna. Ainda agora, as universidades federais do Rio de Janeiro, agindo em concurso, fizeram um pacotão, e homenagearam o ex-presidente Luiz Inácio da Silva com o título de Doutor Honoris Causa coletivo. Pois, então, não é que o verdadeiro comandante-em-chefe da quadrilha do mensalão recebeu uma espécie de HC simbólico da elite pensante carioca? HC aí é sigla de habeas corpus.

É uma incrível vontade de servir! La Boétie, caso vivesse hoje, teria incontáveis exemplos para sua tese. Inscrevem-se, portanto, os autores da homenagem, no mesmo panteão daqueles que honraram Getúlio Vargas e Adelita (este era o curioso pseudônimo de um poetastro, almirante de alma cândida, membro da junta militar de tempos idos e sofridos), aprovando-os para a Academia Brasileira de Letras. Ficaram todos em boa companhia. Até Sarney tem assento na Casa. Mas não devem ficar preocupados os ilustres puxa-sacos. Há coisas piores na nossa história. As recentes festividades de Cabral e seus acólitos, em exuberantes performances em Paris, não acabaram de lançar a dança do guardanapo? Nem o baile da ilha Fiscal foi tão criativo.

O que, talvez, cause espanto a um observador é o silêncio de outras instituições, certamente doidinhas para passar pelo ritual de submissão ao grande líder, em rapapés ridículos e salamaleques meio afrescalhados.

Nas histórias em quadrinhos de Tarzan, relata-se o tratamento que os nativos devotavam a manda-chuva eventual, em obrigatória genuflexão: sim, buana; não, buana; estamos a seu dispor, buana! A fabulação do ficcionista não estava, ao que parece, descolada da realidade; era tão somente um decalque. A bugrada dos sertões brasileiros também se encantou aparvalhada com os sortilégios do Anhanguera, ao botar fogo numa cuia d'água, ardente, truque que aqueles nunca desconfiaram.

É uma pena que no Brasil não exista a tradição operística. O libreto seria fácil de construir; bastaria ler os jornais diários. Só falta compor as músicas e providenciar os arranjos. Nem precisava contratar atores. Há inumeráveis artistas à disposição, canastrões refinados, aptos a representar a si próprios.

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