domingo, 31 de julho de 2011

A pirataria de Estado (Vittorio Medioli)

O editorial abaixo só confirma a suspeita de muitos: não é o povo brasileiro que é dono da Petrobrás; a Petrobrás é que é dona do Brasil. Nem Itamar Franco, que denunciou a "caixa preta" dos custos desta multinacional quando ele ainda era presidente, conseguiu obrigar a empresa a uma necessária transparência. Não por acaso, certamente, Lula da Silva manifestou o interesse em ser presidente da Petrobrás quando saísse do poder. Ele sabia do que falava. Pelo menos aí, mesmo que parecesse que só brincava com a idéia.

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(Publicado no jornal O Tempo, de 31 de julho de 2011)

"Claro que o etanol é rentável", disse, na sexta- feira passada, o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli.

Quanto é rentável e há quanto tempo alcançou esse patamar de rentabilidade, entretanto, ele não explicou. Preferiu emendar o pronunciamento com um chavão nordestino, provavelmente já como antecipação da campanha política de 2014, quando será candidato a governador da Bahia: "Os usineiros estão dominando o Brasil há 450 anos".

Pois bem, partindo da atuação dele no setor, que beira a criminalidade, depara-se que, além de estulto, o sr. Gabrielli é um ignorante que escalou os vértices da estatal para atender essencialmente aos interesse de um partido.

A CPI que um dia fatalmente se abaterá sobre a condução temerária da Petrobras revelará as responsabilidades do "new" empresário do cangaço, que, provavelmente, nunca teve tempo para conhecer de perto uma usina.

Estarrece constatar que, nos últimos quatro anos, quando a conjuntura possibilitou e o monopólio garantiu, a Petrobras rapinou o Brasil comprando etanol abaixo do custo e revendendo-o com margens superiores a 60% ou até mais. Comprou pagando a prazo, cerca de 30 dias após a retirada da usina, e vendeu à vista, por valores que levaram à inadimplência as usinas e até o fechamento de atividades.

Nessa fase, o capital estrangeiro se apossou facilmente, junto com a Petrobras, de significativas parcelas do sistema produtor.

Quando novos players anunciavam sua entrada na produção de biocombustíveis, ampliando assim a oferta, bateram no esquema predatório, e antinacional, da Petrobras. Abandonaram os projetos quando a mãe do PAC, hoje presidente da República, era, além de "primeira ministra", presidente do conselho da estatal. O carpe diem, o lucro selvagem e descomprometido com o futuro tumultuaram o setor, afugentaram investimentos e destrambelharam as usinas - estratégicas no contexto econômico tupiniquim como geradoras de emprego no campo, de renda e oportunidades.

Quanto ao aspecto ambiental, o etanol é fonte renováve. Com balanço de emissões equilibrado, sequestra mais do que emite. O petróleo não, incrementa apenas o aquecimento global com taxas devastadoras.

O tratamento impingido ao etanol pelo governo nos últimos anos é para lá de neoliberal, de criminoso e de obtuso, e contrário à economia popular.

À luz dos números divulgados pela Petrobras, uma perdulária companhia de petróleo, o último custo divulgado de extração, em maio de 2011, é US$ 11,38, marcando um aumento descabido de 10,59% sobre o mesmo período do ano anterior, apesar de ter a queda do dólar como aliada.

O custo do refino da Petrobras nos últimos 12 meses apresentou uma alta de 24,5% por barril, também inexplicável, digno de polícia.

Afinal, entre extração e refino, a Petrobras tem um custo, por ela declarado, de US$ 18,95 (era U$ 16,57 há um ano) por barril (ou 159 litros).

Pois bem, o custo médio do combustível da estatal resulta em R$ 0,1847 por litro e poderia ser ainda menor não fosse a gestão da empresa, corroída por interesses políticos e roubalheiras - que o senador Eunício de Oliveira se encarregou de comprovar.

O leitor provavelmente não entende como o combustível produzido ao custo de R$ 0,1847 é pago por ele dez vezes mais caro. Os lucros da Petrobras representam, assim, um assalto ao cidadão.

Pode-se concluir que usineiros, mesmo em sua fase áurea no século passado, eram passarinhos comparados aos urubus de Gabrielli, a pessoa menos indicada para fazer chacotas de um setor desprotegido, exposto que é aos riscos climáticos e à pirataria da Petrobras".

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